quinta-feira, 17 de março de 2011

Rio, 50 anos de abandono e descaso

Por José Paulo Grasso


O Rio de Janeiro há muito deixou de ser a Cidade  Maravilhosa e incorporou o epíteto de Cidade Partida. Os poderes se uniram para trazer a Copa, a Olimpíada, as UPPs e 50 bilhões de investimentos públicos e privados, mas não há um planejamento ancorado em metas que quebre o total desmantelamento das instituições, seja público ou privado, o que mantém e manterá a Cidade Partida. Sem uma real revitalização da economia, após 2016, com o fim dos investimentos, o que faremos com os empregados dessas obras públicas e privadas? Enfrentaremos uma crise sem precedentes. Daí a necessidade de se pensar um plano diretor que tenha uma âncora socioeconômica que una toda a sociedade através de metas de crescimento autossustentáveis, como tinham todas as cidades que se reinventaram.
O Píer da Praça Mauá já tinha sambinha, projeto arquitetônico em 3D, etc. Na primeira manifestação de que era uma pracinha de cidade de interior, mudaram. Partiram para iconizar a cidade e chamaram um famoso arquiteto. A proposta apresentada não convenceu. Sua estrutura se movimenta para captar energia solar, o que é um entrave por causa da maresia, exigindo manutenção custosa, sem contar que precisa ser escondida porvegetação nas laterais e não passa de um corredor.
O problema é o total descaramento quanto ao futuro socioeconômico do Rio, porque aquele local sempre foi considerado uma área AEIU (Área de Especial Interesse Urbanístico). Nele, devemos colocar, obrigatoriamente, algo que seja o motor da revitalização da área portuária.
A única coisa certa desde o início para a prefeitura é uma licitação pensada na administração passada, que já foi feita, e na qual a prefeitura está colocando um empréstimo de R$ 3,5 bilhões do FGTS para preparar a infraestrutura da área portuária para um projeto que ainda não foi apresentado. Não há como preparar uma infraestrutura sem projeto detalhado. Em que a especulação imobiliária que se prevê para o local irá influenciar para revitalizar a economia do Rio? Como vamos revitalizar os subúrbios para acabar com o epíteto de Cidade Partida?
Segundo estudo produzido pelo vereador Eliomar Coelho, o Pan só serviu para o aprofundamento da desigualdade social e urbana via transferência de recursos públicos (cerca de 80%) para o domínio do capital privado. Vamos permitir isto de novo?
O IPP já emitiu um laudo dizendo que não haverá problemas. Uma região que hoje tem apenas 20 mil moradores, dos quais poucos possuem carro, e que sofre sérios problemas de trânsito, terá sua população aumentada para 100 mil moradores de classe média e seus veículos, mais escritórios comerciais de luxo. Para bancar essa especulação, foi lançado um plano de vendas de Cepacs que irá permitir aos compradores construírem acima do gabarito até 50 andares. Imagine os lucros de alguns e o transtorno que isso ocasionará a esta região central da cidade, importante eixo rodoviário. No Edifício Avenida Central, que tem apenas 36 andares, se diz que concentra uma população flutuante de 1 milhão de pessoas. O negócio é tão absurdo por todos os ângulos que convém não mostrar.
Só o aumento anual de veículos, de mais de 40 mil/ano, levou o diretor do Detran a declarar que o Rio irá parar em curto prazo. Pesquisas apontam que o carioca perde em média uma hora e meia por dia em engarrafamentos. Imagine o que vai acontecer com a demolição do elevado por motivos estéticos e ao custo de mais de R$ 8 bilhões.
Esta especulação toda se dá em função das indústrias de petróleo, gás e plástico, petroquímica, cosmética, farmacêutica e naval, que não se locam no município do Rio, e sim nos arredores, e que em grande maioria ainda não saíram do papel. Segundo recente relatório da firma inglesa Richard Ellis, no Rio a taxa de vacância dos imóveis comerciais está em torno de 1,8%. E é usado como desculpa para que o secretário do Desenvolvimento Econômico Municipal afirme a importância desse descalabro. Nada contra a indústria da construção civil, só tenho a total certeza de que o que está sendo feito vai levar o Rio à bancarrota total, e os especuladores sabem disso. Só que eles vão embora para explorar outras áreas com o capital especulativo, e nós ficaremos aqui com o caos urbano.
Não é um absurdo? A sociedade precisa rapidamente acordar e se mobilizar.

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