quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Rio que nós podemos

Por José Paulo Grasso


O Rio vive um momento especial. Alinhamento entre os três poderes, os maiores eventos da mídia mundial a propiciar investimentos infraestruturais em mobilidade urbana e aumento da rede hoteleira, o pré-sal com grandes empresas do setor interessadas em seus desdobramentos, indústria naval renascida, boom imobiliário em quase três milhões de metros quadrados, UPPs e PAC. Mas isso será realmente capaz de reverter meio século de problemas que levaram o Rio à decadência, expulsando o setor industrial e econômico, submetendonos à violência e à falência dos serviços públicos e privados, além da mais completa – e perversa – falta de qualidade de vida? Essa dúvida pode ser resolvida por uma simples pergunta: há um plano diretor que mostre um crescimento socioeconômico cultural e ambiental autossustentável, apoiado numa âncora que permita metas críveis de curto, médio e longo prazo, unindo a sociedade e aumentando a renda per capita, para reduzir o abismo social que converteu o Rio numa “cidade partida”? Lugares que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos usaram essa tática para se reinventarem e hoje ostentam altos padrões de qualidade de vida. Entrementes, o ente público brasileiro ainda não raciocina em longo prazo, embora, de certa forma, a iniciativa privada, com a globalização, tenha sido obrigada a se adaptar nos últimos anos. Como ainda são raros os setores que irão se beneficiar das iniciativas em andamento é hora de a maioria se unir e demandar que os dirigentes invistam numa política pública de resultados que reinvente o Rio e se consagrem.
As UPPs melhoraram a segurança localmente, contudo, após dois anos, os resultados socioeconômicos apurados em pesquisa (RCV) na Cidade de Deus não se materializaram da forma esperada.
O problema é engajar a população, revitalizar a economia, subúrbios e a periferia aumentando a arrecadação para permitir investimentos nas mais diversas áreas.
O turismo cria uma infraestrutura envolvente que tem mão dupla: a cidade só é boa para os visitantes quando também é para os moradores. Se o principal valor apontado em todas as pesquisas turísticas é o povo, é preciso uma política pública que adicione a sociedade para atrair um visitante qualificado.
Existe turismo médico, pedagógico, cultural, ecológico, geriátrico, especial, religioso, esportivo, radical, especial, agrícola, de incentivo, de aventura, romântico, infantil, lazer etc., sendo que todos esses segmentos faturam bilhões de dólares anualmente. O turismo de negócios é o carro chefe, pois atrai o turismo top, formador de opinião, com gasto médio diário mundial de mais de US$ 500.
O Rio tem clima, belezas naturais e cultura que encantam qualquer um. Por que não há alternativas explorando as inúmeras opções existentes, que inexplicavelmente não são oferecidas? O negócio turismo da cidade deve atender o interesse do visitante, oferecendo opções para que ele possa escolher o que fazer ou curtir, interagindo com a cidade e seus habitantes. Isso é determinante para sua atração já que o Rio tem potencial para ser vendido por no mínimo sete diárias.
Imagine a associação do setor à indústria criativa: moda, móveis, utensílios, beleza, design, culinária, gastronomia, noite, cooperativas, TI, arranjos, figurinos, certificação, engenharia de entretenimento, religião, arte, folclore, espetáculos culturais, festas típicas, bares, esportes radicais, produção de filmes, ingressos para música, cinema, museus, teatro e shows, suporte a atividades esportivas, transportes, serviços para idosos e crianças, seguros, ecoturismo, observação de pássaros, fauna, flora, borboletas, guias especializados.
Esse universo envolverá toda a população, incluindo os atualmente despossuídos, e em curto prazo transformará a cidade na vanguarda mundial do setor, trazendo desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental para todo o Rio e arredores, se espalhando por todo o estado, incrementando a arrecadação em bilhões e gerando milhões de empregos, além de atrair toda uma indústria periférica, seus fornecedores e o setor internacional de serviços.
Imagine em quantos aspectos o Rio poderá se enquadrar no clichê Capital Mundial – só para citar três exemplos claros – da ecologia, do esporte radical e do turismo náutico. Arrecadarseaacute; com turismo e indústria criativa mais do que com o pré-sal. Bem administrada, a atividade se eterniza.
E através de uma coscientização cidadã envolvendo, principalmente, os jovens, para que trabalhem por sua cidade e o seu futuro – o futuro de todos nós -, transformando-os em “fiscais diplomados do Rio de Janeiro”, teremos obtido em curto prazo uma completa mudança de comportamento, valorizando a conservação do bem público, as atitudes sociais, culturais e ambientais, pois o turismo passará a fornecer uma parte do sustento de todos, direta ou indiretamente.Mais do que um sonho, esse é o Rio que nós podemos fazer, o Rio reinventado merecedor de ser outra vez carinhosa e orgulhosamente chamado de Cidade Maravilhosa.

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