Por José Paulo Grasso
Quando fui apresentar ao secretário de desenvolvimento econômico municipal um projeto com a característica de permitir a reinvenção da Cidade, comecei falando das mazelas para exatamente enfatizar a necessidade de engajar a sociedade, porque ela enxergaria as tão sonhadas mudanças e apoiaria. Só que ele não gostou da abordagem, achou que estava criticando e me perguntou se eu tinha dinheiro para fazer o projeto. Fiquei estupefato com sua reação porque se continuasse a apresentação ele entenderia que dinheiro não é o problema e sim a vontade política. Ele encerrou a exposição.
Quando fui apresentar ao secretário de desenvolvimento econômico municipal um projeto com a característica de permitir a reinvenção da Cidade, comecei falando das mazelas para exatamente enfatizar a necessidade de engajar a sociedade, porque ela enxergaria as tão sonhadas mudanças e apoiaria. Só que ele não gostou da abordagem, achou que estava criticando e me perguntou se eu tinha dinheiro para fazer o projeto. Fiquei estupefato com sua reação porque se continuasse a apresentação ele entenderia que dinheiro não é o problema e sim a vontade política. Ele encerrou a exposição.
Este foi o único caso que não consegui apresentar o projeto. No BNDES, gostaram tanto que acenaram com a possibilidade de ele ser feito em “Project Finance”, que é quando o projeto físico é a própria garantia e o Banco mundial informalmente explicou que tem todo o interesse em participar.
Quando fui apresentar na Petrobras, fui bem recebido, mas, como todos vão lá para pedir, o diretor me explicou que não poderia fazer uma exposição e que ele iria olhar sozinho. Pensei cá comigo, perdi meu tempo. De repente ele leu que o projeto ia chamar mais atenção do que a árvore de Natal da Lagoa e me pediu para explicar aquilo. Bom, acabou ficando horas comigo, adorou, e para minha surpresa disse que não iria comprar, e sim que ele era obrigado a comprar porque sua empresa não poderia ficar de fora de um empreendimento que apresentasse tal retorno. Só que eu não tenho o terreno e ninguém constrói um castelo no ar, como um diretor do Bradesco me explicou.
Como no terreno que considero ideal ninguém apresentou uma proposta que o secretário endossasse, resolveu-se fazer uma praça pública que já tinha animação gráfica e até sambinha no Píer Mauá. Só que isso foi atropelado pelo desejo dos arquitetos, que unidos apresentaram uma proposta de que naquele local deveria ser colocado um projeto icônico e foi quando trouxeram um arquiteto famoso que fez um projeto meia bomba, que jamais irá cumprir o que é determinado para o local. Este é considerado uma área de especial interesse urbanístico (AEIU), sendo que lá deveria ser colocado algo que seja considerado como o motor da revitalização da área portuária.
Hoje já há um consenso de que é extremamente necessário revitalizar os subúrbios, a periferia e ainda trazer crescimento socioeconômico, cultural e ambiental de forma autossustentável. O turismo é o caminho que concretiza todas essas vertentes e ainda apresenta resultados em curto prazo.
O secretário de desenvolvimento econômico está focado em atrair empresas apoiado numa mídia que acena com um Rio que não se concatena com a realidade, daí a necessidade de incentivos fiscais. E, para piorar, querem deixar como legado uma CCI na Francisco Bicalho, que já está condenada ao fracasso, antes de ser projetada. É muita vontade de errar concentrada.
Quando apresentei o projeto à equipe do maior empresário carioca, Eike Batista, a aprovação foi imediata, porém criou-se um mal estar porque um dos avaliadores pediu que fizesse uma carta dizendo que já trabalhava no projeto há algum tempo. Disse que não tinha problema, mas retruquei o porquê disto: se era para me diminuir. Ele não tocou mais no assunto, querendo sempre mais detalhes sem assinar o contrato de confidencialidade, o que acabou por azedar nossa relação. Só que o empresário foi convidado para ser embaixador do Rio e encontrei-o na solenidade, quando pedi uma segunda avaliação sem entrar em detalhes. Ele designou o diretor de sua empresa que ao me encontrar explicou que estávamos disputando a mesma área. Perguntei se o melhor projeto ganharia e ele concordou. Fui explicando até que em um ponto divergimos sobre dados da atividade turística. Expliquei-lhe que os dados que lhe tinham fornecido eram otimistas em excesso, o que realmente se comprovou, porque a previsão anunciada na mídia era do negócio de ele se expandir em dois anos, comprando mais dois Pink Fleets o que não aconteceu. Ao final da apresentação ele estava tão convencido que pediu o contrato de sigilo porque no entender dele o projeto era perfeito. Para minha surpresa, passadas duas semanas, ele recuou. Só que hoje sua empresa está investindo pesadamente no turismo e se o Rio não mudar ele terá problemas de novo, só que bem maiores. Ou seja, se essa for à vontade política qualquer empresário pode empreender o que proponho.
O secretário de segurança pública tornou a dar entrevista, preocupado com a situação socioeconômica e desta vez foi além, disse com todas as letras: “Nada sobrevive só com segurança, não será um policial com um fuzil na entrada de uma favela que vai segurar, se lá dentro das comunidades as coisas não funcionarem. É hora de investimentos sociais.” Olha que até agora só se ocupou cerca de 0,5% das 1060 favelas, mas segundo Beltrme, já existem mais de trezentas mil pessoas na expectativa, ávidas por dignidade.
O detalhe é que a estimativa de retomada de todas essas áreas implicará aumento anual permanente de 20% nas despesas da segurança pública. Só que o Orçamento precisa ser otimizado também para melhorias em educação, saúde e transportes. Falando assim dá para o leitor entender o tamanho do buraco orçamentário e a real necessidade da revitalização da economia do Rio? Sendo que para piorar, os comandantes da PM na baixada e no interior estão preocupados com a migração de traficantes com fuzis. Explode criminalidade nesses locais. Afinal qual é mesmo a política pública do Rio para a revitalização de uma economia depauperada por mais de meio século de incúria administrativa?
Fui apresentar o projeto numa das quatro maiores empresas de publicidade do país para os seus donos. No meio da exposição, quando falei que o Riocentro não funciona, um deles discordou. Ele falou que tinha acabado de realizar lá um evento com quinze mil alunos de escolas públicas. Imagine a saia justa de ter de explicar que um centro de convenções internacional é construído com dinheiro público para trazer renda, empregos e aumento de arrecadação porque atrai um público que tem gasto médio mundial acima de US$ 500,00. Ou seja, que o perfil apresentado, levar alunos, é um evento sim, e socialmente interessante, mas que é completamente diferente da finalidade inicial do imóvel que é de atrair turistas que pagam caro para se reunir no mesmo local, inserindo bilhões de dólares em gastos diversos na economia local e que isso não é condizente com uma atividade que pode ancorar a revitalização da economia carioca. O que demonstra a total desestruturação atual da cidade para cumprir suas mínimas funções. Las Vegas, por exemplo, promoveu em abril último um congresso para 110 mil pessoas, sem contar os acompanhantes, e mesmo tendo 130 mil quartos optou por recebê-los em três datas consecutivas, porque seus hotéis já possuem uma ocupação média independente dos eventos que a cidade sedia.
Assistimos em todo o mundo revoltas populares contra um processo econômico de pauperização social e concentração de riquezas, muito parecido com o que acontece no Rio. A mídia está mostrando algumas ações nas comunidades, mas, elas não darão jamais o que seus moradores excluídos da sociedade de consumo anseiam, que foi definido com muita propriedade pelo Secretário Beltrame e que se chama dignidade. Vamos esperar que estes movimentos cheguem aqui ou vamos implementar uma política pública de resultados em curto prazo?
Os empregos gerados hoje no Rio são em setores de baixa agregação de valor, que vão gerar pouco em relação ao PIB. Já com uma indústria turística forte os empregos além de se eternizarem, agregam uma cadeia empregatícia de vasto espectro. O anúncio de um Master Plan é o que falta para se dar partida na atração do setor industrial no sentido amplo, pois, cadeias produtivas inteiras se formariam. O grande detalhe é que com o turismo haverá uma mudança de comportamento empresarial, porque o lucro é muito rápido e exige profissionalismo extremo, inovação e influenciará todos os setores imediatamente com a rapidez dos resultados obtidos. Em cinco anos a realidade do Rio será condizente com a de qualquer cidade global.
Não é a toa que o prefeito Eduardo Paes já declarou que não está satisfeito com o setor. E os empresários dos outros ramos, será que eles estão satisfeitos? Sim, porque se atividade for desenvolvida todos os setores serão beneficiados e sempre na casa dos bilhões de dólares. O Brasil hoje está apoiado em dois setores: agronegócio e commodities, o que inclui o petróleo. Eles sustentam a balança comercial e o superávit. Se formos analisá-los veremos que são vocações naturais. Como o turismo, que pode ser tão importante quanto ou até mais, por não ser finito, por movimentar todos os setores simultaneamente e por gerar e eternizar um mercado interno forte e de grande capacidade de consumo, coisa que os outros segmentos não fazem, além de estimular a indústria, inclusive a criativa, criando e consolidando marcas nacionais. Só que a sociedade ainda não acordou para sua importância. E está mais do que na hora de ela fazer isso. Acorda, Rio. Vamos, todos juntos, reinventar a Cidade Maravilhosa.
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