sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O monopólio da imprensa carioca e a propaganda governamental


Por José Paulo Grasso
Começo a desconfiar que o carioca esteja finalmente acordando da sua bovina passividade a essa realidade midiática imposta pelas “autoridades” ao receber de uma leitora, recentemente, esta frase do mestre Veríssimo: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”.
Realmente é muito preocupante que, ao iniciar o último ano de mandato, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, dê declarações na imprensa paulista, que entende ter deixado claro seu plano (?) para a cidade. Ele se vangloria de que após ajuste fiscal (?) no primeiro ano à frente da prefeitura, ampliou a taxa de investimento da cidade de 3,4% a 12%, entre 2009 e agosto de 2011.
Em busca da reeleição, ele diz entrar em 2012 sem pensar em alianças. E delira: “Se eu pudesse ter um cargo vitalício de prefeito do Rio, eu ficava por aqui. Fiz um grande conjunto de alianças no segundo turno da eleição de 2008, e ela governa comigo sem escândalos (?)” Ele prossegue na maior cara de pau dizendo que está fazendo em cinco anos (?) o que não se fez em toda a história. “Vários temas que eram lendas nessa cidade nós resolvemos (?). Revitalização da zona portuária e saneamento da zona oeste sem dinheiro público. Vamos fechar o aterro de Gramacho e teremos o aterro sanitário mais moderno da América Latina, licitação das linhas de ônibus, bilhete único.”
Será que o que ele diz é verdade?
Favelas sem saneamento básico
Segundo a avaliação jornalística intitulada ooutro lado”, a coisa não é bem assim: a redução dos juros de 9% para 6%, após amortização de parte do débito com empréstimo de US$ 1 bilhão (R$ 1,86 bilhão) do Banco Mundial, foi o principal fator que permitiu o aumento da taxa de investimento da cidade de 3,4% em 2009 para 12%, até agosto de 2011. Após negociação com a Caixa Econômica, Paes garantiu que o banco entrasse no leilão de títulos imobiliários que pagarão os R$ 8 bilhões para a revitalização da zona portuária. Iniciou obras planejadas há anos. As principais estão na área de transporte, com três vias expressas para ônibus, uma financiada pelo BNDES. A maioria dos canteiros, porém, só serão desmontados após 2012, quando termina seu mandato. Paes ampliou o gasto em publicidade. Os anúncios focam, principalmente, a importância das obras viárias. Abordam ainda a ampliação do Programa de Saúde da Família.
É interessante porque essas abordagens permitem outra, a dos contribuintes insatisfeitos com a administração municipal, que se sentem constrangidos em conviver com massacrante e caríssima mídia publicitária diária, que ainda por cima é enganosa. Houve em 2011 um absurdo e indecente aumento da verba de comunicação em 9 000% e não há justificativa nem concordância para que essa fortuna não seja aplicada de forma que efetivamente beneficie a população.
Na Zona Sul do Rio, no Leme, onde resido, a realidade é que, embora as calçadas embaixo das marquises (as que ainda não foram demolidas) estejam preenchidas com grades, jardins, vasos de plantas, luzes fortes, sabão em pó, creolina e até pedras pontiagudas, nada evita acampamentos da população de rua, que aumenta a cada dia, às vezes com famílias inteiras, crianças inclusive. Não dá para sair à rua e encarar a realidade socioeconômica dos excluídos sem sentir um desconforto na alma. O ineficiente programa Tolerância zero, na verdade uma fábrica de multas para extorquir a população, além de não oferecer opções de sobrevivência aos despossuídos, aos informais e aos camelôs, “permite” que eles concorram com o comércio organizado, que o esgoto corra a céu aberto na praia diariamente provocando inúmeras doenças nos incautos que se aventuram a mergulhar, que com qualquer chuvinha o bairro exale um cheiro de fossa proveniente de favelas sem saneamento básico, sendo que existem brigas insolúveis entre os diversos órgãos governamentais por causa da cascata de esgoto que atinge prédios vizinhos à comunidade, com IPTU altíssimos, sem que a responsabilidade seja assumida.
Um cala-boca oficial e institucional?
Estas ocupações cada vez recebem mais pessoas, sem planejamento e fiscalização, com grau acentuado de verticalização das moradias, aumentando cada vez mais a vazão de esgoto e lixo, porque com a especulação imobiliária sem precedentes que estamos vivendo, aliado a uma crise cada vez maior nos transportes, não há outra solução, a não ser conformar e subir o morro para ficar perto do trabalho. O que aumentará exponencialmente os numerosos problemas infraestruturais já existentes, resultado de décadas de administrações sem planejamento, como, inclusive, esta do senhor Eduardo Paes.
Aliás, alguém consegue entender o orgulho dos governantes em levar autoridades internacionais para mostrar que mais da metade da população é obrigada a subsistir em áreas com acesso tão complicado, em barracos deploráveis, sujeitos aos mais diversos problemas infraestruturais e de saúde, com salários abaixo de U$ 400,00, admitindo que haja um desagradável abismo social na sexta maior economia do mundo, com o pretexto de que eles têm uma vista linda da cidade?
Muitas lojas fechadas, porque aluguéis e impostos não condizem com os faturamentos, dificuldade cada vez maior para estacionar, sem falar que o metrô circula de cinco em cinco minutos e o ônibus da integração de meia em meia hora. Podas que incentivam as árvores a crescer, sujeitando-as aos riscos das ventanias, que volta e meia derrubam uma, luzes que não acendem ou não se apagam, mosquitos da dengue que nos obrigam a ficar com as janelas lacradas, ratos e baratas pela rua a qualquer horário, uso do espaço público por anunciantes que não proporcionam retorno (mas, que tem alguém ganhando), calçamento em péssimo estado, mesmo com notificação municipal, aterrorizando os idosos, asfaltamento em péssimo estado, total falta de uniformidade nas jardineiras, falta de padrão arbóreo (pé de jaca é um perigo, imagine o estrago provocado por um fruto maduro), esgoto correndo nas ruas para as redes pluviais, a limpeza da areia da praia por máquinas cessou por falta de manutenção provocando o aumento do risco bacteriológico, comentários generalizados que o bairro merecia uma limpeza com água e sabão, sem falar da rotina de sobressaltos em relação aos bueiros do bairro, sendo que quase fui vítima de um acidente destes, as pegadinhas na saída dos bancos, a partir das dez horas da noite comércio fechado e ruas desertas... Este é o quadro da zona considerada turística do Rio? Por que nada disto vem à tona na mídia carioca? Serão os 9.000% de aumento em publicidade da prefeitura? Um cala-boca oficial e institucional?
Ou você engole ou vai ficar desempregado
Os moradores estão unidos contra obras nas favelas que são totalmente contrárias ao código florestal, mas que continuam sendo executadas, embora tenhamos conseguido miraculosamente embargar um projeto de edificações na APA do forte do Leme que já estava aprovado pela prefeitura; e por aí vai... Ou seja, a situação é vexaminosa nos mais variados aspectos que envolvem a qualidade de vida.
Tudo isto acontece num bairro que está na vitrine da Zona Sul. Se cruzarmos o Rebouças em direção aos subúrbios, aí é covardia. Como lá não tem a exposição que tem do lado de cá nem moradores influentes, temos ações completamente diferentes daquelas ocupações sem violência do outro lado da cidade. O clima é de guerra civil, com operações policiais recorrentes, tiroteios, mortes, balas perdidas, cracolândias e todo o calvário conhecido há décadas, sem falar da violência cotidiana que não é retratada pela grande mídia, mas que pode ser conferida em jornais populares.
Há pouco tempo um morador subiu na laje para fazer um conserto com uma máquina de furar elétrica e foi fuzilado por um atirador de elite, que estava há apenas 30 metros de distância e que acabou inocentado, porque... “nesses lugares se atira primeiro e se pergunta depois”, porque como estamos vendo a culpa foi do assassinado que se atreveu a sair de debaixo da cama, que é o lugar onde se deve ficar durante operações policiais na zona suburbana e na periferia do RJ e ninguém se atreve a tocar no assunto, certo?
Como há isenção de IPTU, a conservação nestes locais inexiste e há descarada troca de votos por serviços públicos básicos, como podemos comprovar através da atuação de nossos vereadores, algo imoralmente clientelista como descobrimos após – exceções à regra – reportagens que abordaram os períodos de 2010 e 2011. A mídia até noticia, mas tem suas ações inescrupulosamente sustadas e em função disso não ocorrem os importantes desdobramentos que moralizariam os setores atingidos, privilegiando os malfeitos.Deve ser desesperador trabalhar num meio de comunicação social assim, sendo que ou você engole ou vai ficar desempregado, tal o monopólio da informação existente no município. Mas nossos bravos coleguinhas não desanimam e continuam dando munição para que a verdade prevaleça. Aliás, curiosamente, o aparelho de raio X da UPA da Ilha do Governador foi finalmente consertado e agora resolveram fazer uma pesquisa do Rio como vamosque irá acompanhar a qualidade de vida em dez áreas.
Qual é a credibilidade?
Será que uma cidade com essas credenciais chegará em 2016 autossustentável e com qualidade de vida como é sugerido sem a menor convicção por membros do governo que dizem que temos uma chance, mas não exibem o menor planejamento para aproveitá-la e também não se mostram dispostos a promover isto? Que o Rio não está num “ciclo virtuoso” já é notório, mas de vez em quando alguém se esquece que essa tese já foi desmascarada e publica uma notinha. Aliás, é desmoralizante o chefe da Casa Civil da prefeitura assinar um artigo num editorial e multiplicar por mil o número de empregos no novo aterro sanitário, que se propõe a ser o mais moderno da América Latina e que está sendo altamente contestado pelos especialistas; e nenhum jornalista rebater esta falácia.Como é que se pode esperar alguma coisa dos gerenciadores de uma cidade que chegou ao fundo do poço exatamente por administrações calamitosas consecutivas por mais de meio século e querer que as coisas mudem sem um planejamento estratégico, muito bem definido e que ao ser apresentado à sociedade ganhe a confiança e o apoio de todos para ser cobrado?
O vice-governador, que tem muito a explicar por causa de sua escandalosa participação na sociedade da empresa que tem o monopólio de construção das UPAs, entre outras denúncias que foram noticiadas e abafadas, faz declarações midiáticas do tipo: “Estão programados mais de R$ 180 bilhões em investimentos públicos e privados em setores estratégicos em 3 anos. Com isso o Rio se torna um lugar único, que combina como nenhum outro, grandes oportunidades de negócio e uma qualidade de vida incomparável.” Se, veja bem, se estes investimentos se concretizarem, qual é a relação deles com a tal de qualidade de vida, que pelo visto ele desconhece o que seja? Esta pessoa é o nome do governador para sucedê-lo em 2014. Pano rápido...
O único investimento aprovado pelo governo que se concretizou, elevou a poluição atmosférica em mais de 50%, comprovadamente, provocou reações químicas ambientais danosas por terra, mar e ar na área onde foi instalado, tentou intimidar os denunciantes que provaram que tinham razão e por isso foi obrigado a recuar, não produziu um único emprego em cadeia, já que toda a produção é para exportação, não paga impostos e não justifica as generosas isenções concedidas. Qual é a credibilidade deste senhor, que deveria estar sendo investigado, tamanha a gravidade das denúncias com provas documentais e que, aliás, é reincidente em declarações de investimentos fabulosos que depois não se concretizam como fez no primeiro governo?
Legado olímpico
O que ninguém diz é que os governos do estado e da prefeitura continuam praticando o neoliberalismo, como bandeira econômica, mesmo com todas as provas existentes de que este tipo de orquestração só produz corrupção e desserviços à população. A construção civil e a indústria imobiliária, por exemplo, que são os pilares do desenvolvimento socioeconômico das grandes cidades (que cada vez mais incham por causa da migração do campo e que cada vez emprega mais técnicas que exigem menos mão de obra), são trabalhados de forma neoliberal sem qualquer planejamento.
Após décadas de expansão desregrada na Barra, quando milhares de prédios foram feitos burlando acintosamente as legislações ambientais, temos um enorme passivo sanitário que obriga os moradores a conviver com um problema muito mal cheiroso e que traz inúmeros problemas de saúde pública. Só que o adensamento populacional está explodindo e se refletindo em congestionamentos diários, que tenderão a piorar porque como sabemos há uma previsão absurda de crescimento com o prognóstico de serem executados em 5 anos obras que normalmente levariam 30 para serem feitas, pois serão executadas sem a racionalidade infraestrutural exigida.
O propalado saneamento da zona oeste, com custo de quase R$ 2 bilhões, tem o script pronto para acabar num escândalo, mas como é numa área abandonada por todos, ninguém notará, como hoje não é notado que nenhuma das caríssimas estações de tratamento de esgoto nunca funcionou, assim como a verba de despoluição da baía da Guanabara sumiu e nada aconteceu. Bem como o destino do esgoto da Barra, que é criminosamente atirado in natura num irresponsável interceptor oceânico, que a continuar funcionando acabará com as poucas praias que ainda são balneáveis na região. Não é incrível o modelo neoliberal de saneamento?
No Porto Maravilha, que não decola, há segundo o mesmo modelo neoliberal vigente uma previsão de construção de incríveis 5 mil edificações! Está tudo errado, não há estudo nenhum comprovando que a área possa absorver tal quantidade de construções e seus usuários, até agora, não conhecem o custo da demolição do elevado e das obras para refazê-lo e nem se toca no assunto; o legado olímpico de um centro de convenções internacional para o Rio soa como um deboche, já que seu próprio idealizador admitiu que não entendia nada do assunto, e por aí vai...
Vanguarda mundial
As propaladas obras na área de transporte, com três vias expressas para ônibus, que terão que ser pagas, não atendem aos interesses da população e sim das facções de empresas de ônibus, pois segundo os especialistas ao serem inauguradas, já estarão obsoletas. As do metrô seguem o mesmo raciocínio.
Mas racionalidade é uma coisa que o neoliberalismo não tem, porque ele busca a concentração de renda com o lucro sórdido e rápido e quando os problemas aparecem seus patrocinadores partem para outro lugar, conforme exemplos nefastos espalhados por todo o mundo. Este tipo de crime contra a economia popular, hoje é combatido em todos os lugares, só encontrando eco em lugares onde a população é muito ignorante, como, por exemplo, nas áreas mais atrasadas da África e, inexplicavelmente, por estas bandas, talvez porque a população ainda não sabe a força que tem. Cabe à sociedade do Rio entender isso agora e agir rápido.
A prefeitura diz que tem dinheiro em caixa e que consegue fazer obras sem gastar. Cita o exemplo do Sambódromo, que sediará as competições de arco e flecha e a final da maratona que está sendo bancada pela Brahma ao custo de 60 milhões. “Usamos o artifício das Olimpíadas para reformar um equipamento da cidade”, diz Paes. Alguém em sã consciência acreditaria numa bobagem dessas? Uma empresa multinacional totalmente voltada para o lucro, submetida ao total controle de seus acionistas e que por isso mesmo deve satisfação detalhada aos investidores, fazendo filantropia? Claro que, como Papai Noel e Saci Pererê, isso não existe e sim uma compensação da prefeitura que “liberou” irresponsavelmente um projeto imobiliário para a área muito superior ao gabarito da região que já é extremamente problemática e que inundará o lugar de carros e pessoas sem o menor planejamento em qualquer área.
Não sou contra a construção civil e nem contra a indústria imobiliária e sim contra a total falta de planejamento vigente que irá atirar o Rio num caos insolúvel, ao mesmo tempo em que será jogada no lixo uma oportunidade única de se reinventar a cidade com ética e qualidade de vida ao se revitalizar nossa economia dentro dos melhores padrões socioeconômicos, culturais e ambientais vigentes, eternizando a cidade e o estado como a vanguarda mundial, o exemplo a ser seguido pelo Brasil e o mundo.
Cofres públicos
O prefeito persegue um modelo de saúde pública que prioriza a terceirização neoliberal, pois do gasto planejado de R$ 4 bilhões, R$ 1,6 irá para as Organizações Sociais (OSs), ao invés de valorizar a estrutura existente e a mão de obra altamente qualificada e concursada da prefeitura. Isto mesmo com evidências já noticiadas de maracutaias feitas em conluio com estas organizações. Ao invés de recuperar os hospitais, criar condição para valorizar o salário dos profissionais e dar condições de funcionamento material digno às unidades existentes, ele prefere abandoná-las à própria sorte, porque com a ruína das instalações criam-se condições para que, sob o pretexto de emergencialidade, as obras possam ser entregues sem licitação a financiadores de campanha, como acabou de acontecer, foi noticiado e ficou por isso mesmo. Por outro lado, entrega unidades de saúde lindas, mas que ficam vazias por não terem os profissionais competentes ou compram maquinas fantásticas que não têm operadores ou manutenção, comprovando a tese de que o importante é gastar e “supostamente” faturar uma módica comissão. Até quando iremos permitir tal impunidade?
Está na hora do feitiço virar contra o feiticeiro, porque se os trabalhadores da área, que já não aguentam mais tanta propaganda enganosa, que sempre termina em fracassos administrativos prejudiciais à classe, se unirem a um movimento que pretenda traçar um planejamento sério em todas as diversas áreas de ação do poder público, teremos força e enquadremos esses políticos que vem arrasando as finanças do Rio há décadas. É interessante porque os projetos executivos para a área poderão ser feitos nas universidades aproveitando novas ideias que serão pesquisadas por professores e universitários, estimulados não só no bem estar comum, como em aprender fazendo, com a possibilidade de criar seu próprio negócio. Esta concatenação de ideias e interesses servirá de mola mestra para unir as mais diversas áreas num projeto que levará a sociedade a refletir sobre o seu poder de realização quanto à possibilidade de influenciar seu futuro voltado para uma qualidade de vida com propriedade e que se eternize.
Há forte investimento em fazer obras, em novas unidades nos hospitais existentes, em creches, em programas, como o Favela bairro, e outras ações que implicam em situações nas quais “supostamente” possam ser pagas comissões ao invés de priorizar o patrimônio público. Até quando os diversos ramos do funcionalismo público assistirão estas ações altamente lesivas aos seus interesses? Por que professores, médicos, guardas municipais, policiais, bombeiros, advogados, enfim, todos os segmentos municipais e particulares não se unem para produzir e iniciar um programa estratégico, capaz de dotar o Rio de gestão e planejamento de curto, médio e longo prazos, que vá além da mera resistência à ganância com que os administradores e a classe política se atiram sobre os cofres públicos?
Verba carimbada
Com um planejamento definido e apoiado por toda a sociedade teremos condição de, independente de quem for eleito, exigirmos seu cumprimento em cima de metas críveis, com âncoras definidas, através de uma transparência total que traga todos para a participação ativa em uma democracia de verdade. Com um futuro delineado de forma clara, a população se sentirá no direito de participar e cobrar. Desta forma poderemos desenvolver uma conscientização cidadã que dará um estímulo palpável aos jovens e tornará a cidade boa para seus habitantes. Para tal, porém, uma imprensa verdadeiramente independente, sem monopólios, que não seja refém do dinheiro público em propaganda, é crucial para servir à sociedade de forma efetiva e transparente.
Todas as ações que serão usadas para a reeleição, como reurbanização das favelas, novas moradias do PAC e até mesmo as UPPs, dependem do sucesso da revitalização da economia, o que até agora não foi abordado, já que não há planejamento estratégico para que isto possa vir a acontecer. Os tais projetos sociais sugeridos são perversos porque consomem uma verba que toda a população terá que repor, mas que não gera a contrapartida empregatícia tão almejada e que proporcionaria ao Rio que as engrenagens da economia voltassem a girar, trazendo qualidade de vida. Até quando permitiremos que brinquem com o nosso futuro?
Esse ajuste fiscal que o poder público tanto se vangloria não é bem assim. Na verdade deve-se exclusivamente à sua secretaria de fazenda, que conseguiu o maior empréstimo já concedido até hoje pelo Banco Mundial. Alguém parou para pensar em por que isso aconteceu? Porque junto com a oportunidade de investir em uma cidade que será a vitrine mundial até 2016, foram condicionados investimentos sociais que se fossem efetivamente realizados deixariam o Banco Mundial muito bem perante a opinião pública mundial, por ter participado ativamente da reinvenção de um RJ pleno em qualidade de vida e com sua economia revitalizada. Só que essa verba não está disponível para fazer o que se quiser como nossos governantes atuais se gabam. Para que exatamente não fosse desperdiçada, ela é toda carimbada dentro dos projetos que foram apresentados ao Banco Mundial e tem que ser justificada sempre.
Quando vamos reagir?
Só que conhecendo nossos políticos, alguém pode acreditar que essas diretrizes serão cumpridas? Ainda mais por uma administração que além de não divulgar este fato, não é vigiada por uma combativa oposição ética e nem por uma mídia forte, que tenham condições de denunciar os malfeitos. Onde está o dinheiro da malfadada despoluição da Baía de Guanabara? Onde já se viu a democracia funcionar sem oposição e mídia responsáveis além de participação ativa da sociedade? Ainda mais num país subdesenvolvido, que ostenta os maiores índices de corrupção mundiais? Mas, mesmo com toda a mordaça aplicada, certos bravos profissionais da imprensa estão dando um baile. Repare.
Como é notório em climas tropicais, todo verão chove, uns mais e outros menos. As Cumulus Nimbus são capazes de provocar estragos consideráveis por causa da elevadíssima vazão num espaço de tempo mínimo. Sabendo disso e que as obras preventivas podem custar até dez vezes menos que as emergenciais, por que elas não são executadas e muitas vidas poupadas? Porque, como na indústria da seca no Nordeste, há muitos interesses em jogo, principalmente que as obras ditas emergenciais, como todo mundo agora descobriu graças aos esforços de denodados repórteres, são dispensadas de licitação e assim determinadas facções empresariais podem desviar fortunas aliadas a políticos inescrupulosos (isto dito pelo presidente do Clube de Engenharia do Rio e por um cientista político e professor de Sociologia da UFRJ).
Adivinhe, leitor-cidadão, por que as mesmas tragédias acontecem e se repetem nos mesmos lugares e mesmo assim passam-se anos e nada é feito, com exceção das lindas sirenes que mandam os moradores debandarem em pânico ninguém sabe para onde, mesmo existindo tecnologias para evitar essas tragédias definitivamente?
Por que a sociedade ainda não percebeu o peso da sua influência? Por que trabalhamos quase cinco meses por ano para pagarmos nossos impostos e deixamos esses políticos remunerados com nosso suado dinheirinho usurparem nosso futuro de forma passiva? Quando vamos reagir?
Sociedade unida e participativa evolui, como vemos na Alemanha, na Coréia, no Japão e outros lugares do mundo. O clube de futebol do Barcelona, por exemplo, tem planejamento para os próximos 30 anos, e nós? Afinal, qual é o plano a que o Paes diz ter deixado claro para a população do Rio na entrevista àFolha de SP? Alguém conhece?
Vamos continuar sendo roubados descaradamente por alianças políticas que vêm desde o segundo turno da eleição de 2008 e que, segundo o nosso alcaide, governa irmanada e sem escândalos? Como ele pode tripudiar da opinião pública desta forma?
Mesmo com toda a “censura midiática” aos malfeitos, sempre aparecem casos escandalosos, como no caso da ciclovia que tinha o mesmo preço de uma estrada federal e que foi desmentida de forma cômica.
Temos agora o milagre da transformação de uma empresa cinematográfica num Instituto Brasileiro Ecológico Sustentável, em apenas 18 dias, e que já nasceu habilitada para uma licitação de R$ 7,98 milhões, sem concorrência. Que tal esta modalidade? Licitação sem concorrência! Um sonho de consumo típico do neoliberalismo brasileiro. Confiando na passividade da fiscalização, esta miraculosa empresa simplesmente falsificou toda a documentação necessária, segundo a prefeitura de Petrópolis, que supostamente atestava as referencias. Agora que o malfeito explodiu, está respingando pelos mais diversos órgãos, inclusive casa civil e procuradoria municipal, já que percorreu todos os meandros burocráticos necessários à aprovação em tempo recorde. O resto segue o corolário de sempre: o endereço fornecido à receita federal ao ser checado estava vazio e a vizinhança nunca ouviu falar desta empresa extremamente bem relacionada em assuntos municipais desde 2002.
Será que já não está na hora de acordarmos e tomarmos uma atitude?

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