Por José Paulo Grasso
Com o anúncio de que o Rio sediaria Copa do Mundo e Olimpíadas, descoberta do pré-sal, PAC e UPPs tentou-se vender a tese do "ciclo virtuoso", que foi totalmente desmoralizada, inclusive com a vexatória saída do secretário do desenvolvimento econômico para assumir o seu real papel: assessoria imobiliária! Neste ínterim, o preço dos imóveis no Rio chegou a um ponto em que o maior especulador imobiliário do mundo, Sam Zell, abandonou o mercado insinuando que ele iria quebrar tamanha a manipulação.
Ninguém se preocupa em explicar como se construindo 30 anos em cinco na Barra da Tijuca, em um terreno de cerca de 2 milhões de m², ficará a atual infraestrutura da região, que permanecerá a mesma. Só a nova Vila Olímpica terá três mil e quinhentos apartamentos de 3 ou 4 quartos que, ao serem ocupados, despejarão no já caótico trânsito da região minimamente mais de sete mil veículos de uma só vez. Aliás, a definição do transito do Rio hoje, segundo pesquisa, é essa: caótico! E ainda não começaram as obras da Perimetral.
Imagine o estrago que o somatório de todas as construções pretendidas provocará, por exemplo, no trânsito, no atual sistema de esgoto que não está dando conta do volume atual. O que o poder público tem para dizer a respeito dessa especulação imobiliária caótica e, principalmente, do desemprego que desencadeará a partir de 2016 quando de uma só vez acabarão obras bilionárias na construção civil, nos projetos olímpicos e as do PAC? Desemprego em massa no setor com falência das empresas de serviço periféricas?
Como se pode querer que uma economia saia do fundo do poço, sem planejamento de curto, médio e longo prazos, nem âncora sólida que passe credibilidade em mudanças para atrair prováveis investidores visando levar desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental ao subúrbio e à periferia que, atualmente, são foco de um abandono total? A cidade tem duas realidades distintas se encontrando completamente partidas e as UPPs e os tais "projetos sociais" claramente não vão resolver isto. Em palestra recente promovida pela imprensa na Fundação Getúlio Vargas um secretário municipal citou como exemplar a ocupação das comunidades do Borel e Formiga. Para quem não conhece é um morro na Tijuca que está em processo de pacificação há mais de um ano e que recebe diversos projetos sociais como, por exemplo, uma coleta de lixo reputada como do mesmo nível de um bairro nobre. Esta UPP atende a duas comunidades que são separadas por uma divisa clara: uma rua. Ele inadvertidamente deixa escapar que mesmo após um ano de ocupação as pessoas ainda não atravessam esta rua ou interagem com a outra comunidade, porque cada lado pertence a uma facção criminosa ligada ao tráfico de drogas. Ou seja, mesmo com a UPP a criminalidade continua se impondo impedindo uma pacificação de verdade e segregando membros de uma mesma família. Em completa falta de sintonia com o responsável pela formação de policiais para atuar nas UPPs, o major Eliezer de Oliveira, que disse que "não é objetivo da UPP acabar com o narcotráfico, e sim afastar a influência dos narcotraficantes sobre as comunidades". Afinal, para que servem as UPPs? Vamos combater a ausência de um programa de revitalização econômica com ocupação militar?
Certo é que esta opressão criminosa das facções continuará porque não há uma perspectiva clara de futuro sendo apresentada à população. É preciso deixar claro que para desmontar essas estruturas criminais que assolam o Rio é preciso convencer a população a denunciar e que para que isso aconteça a comunidade tem que se sentir segura de que o poder público que a abandonou há décadas chegou para ficar e que com isso todos ganharão em todos os sentidos. E o que nós vemos? Uma política de segurança como o Minustah da ONU no Haiti, onde não há uma solução em vista que permita a retirada das tropas mesmo com mais de sete anos de ocupação.
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