Por José Paulo Grasso
Após meio século de problemas que faliram os serviços públicos e privados, o RJ chegou a apresentar o menor crescimento médio de todas as unidades da federação por 13 anos consecutivos, ridículos 1,9% ao ano. Por causa do petróleo, ainda é o 2º maior PIB do país, mas a distribuição de renda é tão ruim que os índices de pobreza a cada dia nos aproximam cada vez mais da realidade do Maranhão, feudo da família Sarney e que representa o que existe de mais retrógrado no ambiente democrático do Brasil.
Nossos representantes são praticamente os mesmos há quase duas décadas, eternizando o atraso, o clientelismo dos centros sociais que são mantidos no vácuo das administrações que enriquecem enquanto a economia regride ao ponto das indústrias terem abandonado o Município, extinguindo a figura do operário padrão e sua renda mais elevada. Os horizontes no RJ apontam para um ganho médio próximo do salário mínimo, inclusive na administração pública que paga os menores salários do Brasil. A violência que deflagrou o caos e fuga das empresas é combatida por uma ocupação militar em comunidades vitrines, não tendo um planejamento de curto, médio e longo prazos com metas críveis apoiadas por uma atividade âncora sólida, como no Haiti. Isto nunca deu certo em lugar nenhum do mundo.
Tanto que as UPPs ainda não desarmaram as rivalidades das diferentes facções que continuam impondo limitações às liberdades individuais nos territórios pacificados, subúrbios e periferia, favorecendo a marginalidade e o surgimento de milícias que ameaçam descaradamente até candidatos a prefeitura. Não estamos no interior do Maranhão com seus coronéis e jagunços acima da lei e sim no RJ, a caixa de ressonância do Brasil, mas a insistência em oferecer projetos sociais ao invés de priorizar a revitalização da economia e proporcionar empregos dignos demonstra que a intenção é eternizar o clientelismo.
Aqui uma juíza foi assassinada “supostamente” por ordem de um comandante da polícia militar, avós morrem em tiroteios rotineiros protegendo os netos com o seu próprio corpo, até na zona sul as pessoas vivem assustadas, as estatísticas de segurança pública são manipuladas e o chefe do tribunal de contas do estado teve que ser afastado. Inexplicavelmente, escândalos envolvendo os governantes não são investigados e não há no horizonte perspectivas de futuro digno para a sociedade que vive acuada, pois mais de 50% da população mora em favelas que circundam áreas nobres, numa situação degradante que, ao se perpetuar, transforma o Rio numa bomba prestes a explodir. Quando chegará a primavera?
Mesmo com uma parte da mídia tentando nos descolar da realidade do dia a dia, não dá para esconder os números que apontam, por exemplo, que a devolução do imposto de renda já é, junto com a arrecadação de IPI, a sexta pior do Brasil e que, a cada ano, a arrecadação de ICMS diminui, sendo que a de 2010 é menor do que a de 1995. Pesquisas chapa branca tentam esconder que mesmo com os eventos mundiais do Rio, o setor de turismo que crescia muito abaixo da média das sete melhores capitais continua abaixo dela, embora tenha um déficit de mais de dez anos de investimentos e seja favorecido por pesados incentivos, mesmo sendo apontado como o maior potencial do mundo. Os tão anunciados investimentos são no pré-sal, nas obras da Copa e da Olimpíada, em mobilidade urbana (que não atendem aos desejos legítimos das associações de bairro) e no PAC, sendo que se encerrarão em 2016, junto com esta especulação imobiliária que inundará a cidade de imóveis.
Como será o pós-2016 se o próprio lema da construção civil é construir 30 anos em 5 tamanho o estrago que chegará junto com a conta olímpica, porque sabidamente não está sendo pensado em como manter a economia funcionando, quando os investimento bilionários cessarem? Seremos uma nova Grécia?
Os dados da Secretaria Municipal de Fazenda comprovam que o crescimento da arrecadação se deve à nota eletrônica, que veio tentar moralizar uma economia que até dois anos atrás tinha só 5% dos negócios formais. O setor produtivo claramente não acompanha as necessidades de crescimento socioeconômico, notadamente das comunidades, do subúrbio e da periferia, o que contribui para que a combinação miséria, violência e ausência do Estado se perpetuem, o que inibirá cada vez mais um possível desenvolvimento.
O próprio governo estadual precisa se decidir se o Estado está indo bem ou se quebrará como ele anuncia ao cessarem os pagamentos dos royalties, que comprovadamente não produzem efeito na economia, a não ser de aumentar os gastos previdenciários através de gastos irresponsáveis com contratações eleitoreiras. O dinheiro que deveria ser usado para condicionar um desenvolvimento socioeconômico futuro, para quando o petróleo se exaurir, está sendo usado para pagar aposentadorias, ou seja, no passado. O Rio ainda não explora o pré-sal, mas sua economia já está doente, num estágio terminal!
Nas comunidades onde foram instaladas as UPPs, 28% dos jovens entre 14 e 29 anos é nem-nem, nem estudam e nem trabalham. Imagina este número aplicado a todas as comunidades, o tamanho do estrago que se avizinha. Não dá para acreditar na seriedade de um movimento que une adversários como o governador e o ex, com reputações escandalosas para defenderem o uso mal explicado desses royalties, não é mesmo? Por que não temos direito a um planejamento que apresente um futuro de qualidade onde os cidadãos se sintam inseridos e com isso passem a atuar ativamente para que isso aconteça?
Estes são os fatos e podem ser revertidos se a sociedade quiser, pois há uma alternativa que levará o RJ à vanguarda mundial, em curto e médio prazos, apoiada em nossa vocação natural. Ela já foi aplicada a lugares que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos e que hoje possuem uma qualidade de vida entre as melhores do mundo. Por que não acordamos para a realidade de que o Rio cresceu em função do porto e que a revitalização da área portuária voltada para a maior indústria do mundo, a única que movimenta todos os setores da sociedade simultaneamente, é a solução socioeconômica, cultural e ambiental que poderá trazer ganhos para toda a população tanto em renda per capita quanto em todos os sentidos da qualidade de vida, com a perspectiva que, desde que todos participem ativamente, estes ganhos se eternizem? Acorda, Rio! Chegou a hora da mudança!
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