quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Um sistema viciado e uma mídia sustentada

Por José Paulo Grasso
Notícias são divulgadas como folhas ao vento, não permitindo que a totalidade das pessoas consiga entender realmente o que está acontecendo, daí uma alienação na qual quase ninguém consegue antever o que pode estar por vir. Para agravar o quadro, a mídia carioca se encarrega de divulgar um cenário de acordo com os interesses de quem a sustenta. Vivemos sob uma realidade virtual que tem prazo de validade e se nada for feito a colisão com os fatos será brutal. Neste artigo tento organizar e analisar tais incongruências de uma forma que todos possam refletir e abrir os olhos.
O Brasil, que será em breve a sexta economia mundial, segue sua escalada em relação ao que há de pior em desigualdade social. Somos o 9º pior país do mundo, atrás de Paraguai e Lesoto. Isto não acontece por acaso. A “suposta” corrupção desenfreada provocada pela associação de partidos políticos e empresários para assaltar os cofres públicos consome entre 1,38 a 2,3% do PIB, de R$ 50 a 84,5 bilhões anuais, segundo estudos, influenciando decisivamente a redução de investimentos na economia (empregos e infraestrutura), além de provocar impactos negativos na saúde e na educação, exatamente pontos que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano. Tornando o país mais caro para produzir (impostos), menos atraente para investimentos (insegurança jurídica, violência e juros altos), mantendo a Formação Bruta de Capital Fixo em um patamar baixo.
Para sairmos deste caos, bastaria uma solução simples: a transparência total das contas públicas, que incrivelmente já é legislada, mas não funciona por falta de participação ativa da sociedade.
Mídia carioca decreta que “agora vai”
Com toda a corrupção que está a nossa volta, fica fácil de entender porque mesmo gastando mais em segurança do que muitos países ricos não conseguimos reduzir as taxas de violência e nem garantir direitos. Somos o sexto colocado no ranking mundial da violência, com índice de 21,9 assassinatos/cem mil pessoas. O Rio de Janeiro, mesmo com todas as notórias manipulações, está com um índice de 27,6. Ou seja, observa-se um gasto com segurança pública que ao invés de diminuir a violência, inacreditavelmente, só a aumenta. Será que não tem alguma coisa errada? Não é possível que ela continue aumentando a cada ano que passa.
Segundo especialistas, metade do crescimento da renda de uma pessoa vem de sua educação e o analfabetismo, no Brasil, alcança o índice de 9,6% da população com 15 anos ou mais (13,9 milhões de pessoas), sendo que no Nordeste alcança-se a marca de 32,9% na área rural. Em educação, estamos atrás de “potências” como Zimbábue (8%), Guiné Equatorial (7%) e Panamá (6%). O problema é político e “supostamente” envolve feudos como, por exemplo, o do Maranhão. Como se pode gastar impunemente três vezes mais com presos do que com educação? Na Inglaterra se discute o contrário, como diminuir o número de presos com políticas públicas, porque o detento não traz retorno, só custo. A coisa está tão feia que em São Paulo querem proibir a tradicional figura do carona na motocicleta.
O Rio, caixa de ressonância do Brasil, não pode ser o 2º maior PIB e ostentar simultaneamente os piores índices da federação em todos os setores, por ser refém de políticas públicas que mudam de acordo com o governante da vez, que impõe sua marca pessoal de gestão e apadrinhamentos, produzindo uma descontinuidade administrativa que nos levou à falência total dos serviços públicos e privados. Não podemos, por exemplo, “supostamente” deixar um hospital ruir para dar as obras de recuperação a um patrocinador de campanha do prefeito, sem licitação, como se faz hoje impunemente. Mesmo com a mídia carioca decretando que o momento atual do Rio é único e que “agora vai”, sem dizer para onde, já que não há visão de futuro porque acintosamente não existe planejamento que o demonstre ou sequer metas críveis.
Que pacificação é essa?
Se olharmos para trás veremos que estamos legitimando um feudo político com o que há de pior, que vem sendo passado de pai para filho há mais de 20 anos, ou seja, estamos diante de um “agente público” que fará de tudo para que a situação piore cada vez mais porque só assim eles perpetuarão suas negociatas.
Não bastasse tudo isso, a mídia ainda cria heróis falaciosamente, como a Globo faz com o secretário Beltrame e o mito das UPPs, que todos sabemos ser a terceira tentativa seguida de ocupar o vazio deixado pelo poder público em mais de meio século de incúria administrativa. Embora os resultados iniciais sejam positivos, sabemos que é rigorosamente impossível de ser implantada e mantida em todo o Rio, porque a relação custo/benefício não fecha, porque gastos sociais são a fundo perdido, pois não dão retorno financeiro. Esta aberração sustentada pela mídia através de estatísticas duvidosas divulgadas com alarde é desmistificada quando sai qualquer pesquisa, mesmo chapa branca.
Descobriu-se agora que, novidade, a miséria é o maior empecilho para os jovens de favelas com UPP, já que mais de 55% disse que interromperam os estudos por necessidade, gravidez ou desânimo com o colégio (falta total de perspectiva de sair da escola e ter um emprego digno com futuro garantido), sendo que 26% não estudam e nem trabalham. Descobriram famílias de 4 pessoas que sobrevivem com menos de mil reais por mês e querem “inventar” projetos sociais que resolvam isso com verba do BID, R$ 90 milhões mais contrapartida de R$ 35 milhões do governo estadual.
Claro que já criaram um sorvedouro para este dinheiro chamado Comitê Executivo de Políticas Sociais para Áreas Pacificadas, mesmo com o pífio desempenho das atuais políticas que até agora não conseguiram fazer com que os moradores de um mesmo morro “pacificado” há mais de um ano cruzem uma rua que demarca o Borel do da Formiga, nem para visitar os parentes porque cada lado é território de uma facção inimiga. Que pacificação é essa que não funciona e que mídia é essa que esconde os fatos? Pacificar os lugares vitrines interiorizando a violência é como atrasar uma bomba relógio, que irá explodir a qualquer hora.
Problemas notórios
Não dá para entender o porquê de insistir tanto em programas sociais que jamais vão produzir empregos que tragam dignidade ao morador do Rio. Alguém em sã consciência consegue explicar por que não se faz um planejamento de curto, médio e longo prazos como, obrigatoriamente, tem que ser feito numa situação como essa, já que o Rio chegou ao fundo do poço, após mais de meio século de incúria administrativa? Por que, desrespeitosamente, não se fala em revitalizar uma economia que a cada ano regride mais, comprovadamente, como todos os índices evidenciam? E, tão importante quanto, por que a mídia carioca não mostra que apenas lugares que tiveram planejamentos de curto, médio e longo prazos obtiveram êxito total?
Por mais assistencialismo que a UPP ofereça, ela nunca vai dar ao morador dignidade, que é o que ele quer. Uma coisa que só vem com independência financeira, ou seja, empregos de qualidade. Vai, sim, propiciar a eleição de políticos ligados a essa prática asquerosamente corrupta, que se renova indefinidamente.
Com as UPPs assistencialistas, estamos assistindo uma repetição vergonhosa do Minustah que a ONU implementou no Haiti, que diminui a violência mas não produz emprego nem renda, e observe que lá já se vão mais de sete anos e bilhões de dólares em gastos. Agora planejam uma retirada vergonhosa, que vai deixar a população entregue à própria sorte. O prazo de validade das UPPs é 2016 e a crise advirá quando, de uma só vez, forem encerrados abruptamente os investimentos bilionários e a obras da especulação imobiliária, que já “avisou” que irá construir “30 anos em 5” porque depois o mercado estará saturado.
Como gastaremos bilhões de dólares para produzir os maiores eventos do mundo sabendo que haverá uma conta a ser coberta, temos que produzir meios para pagá-la no pós-2016. Mostrar os problemas é fácil porque, mesmo escondidos pela mídia, eles são fatos notórios. Difícil mesmo é apontar uma solução lógica e que atraia a todos.
Processo maquiavélico
É absurdo haver um projeto que foi “aprovado” pelos secretários de desenvolvimento estaduais e municipais, que pode ser bancado pela Petrobrás e outras empresas interessadas que jamais irão querer ficar de fora de um rolo compressor que irá gerar, comprovadamente, milhões de novos empregos de qualidade, aumento da arrecadação em bilhões de dólares, unindo toda a sociedade em um planejamento de curto, médio e longo prazos que revitalizará toda a infraestrutura do Rio, possibilitando um universo de obras que desenvolverão qualidade de vida e um crescimento ordenado imobiliário, levando verdadeiro desenvolvimento às UPPs, favelas, subúrbios e periferia, fato que transformará o Rio na vanguarda mundial do setor turístico de negócios e lazer e que, uma vez bem administrado, se eternizará, junto com toda a nossa beleza natural.
A indústria do turismo movimenta todos os setores simultaneamente, fazendo com que cultura, indústria criativa, tecnologia de informação, logística, entre outros diversos segmentos, criem um ambiente propício à proliferação de centenas de milhares de micros e pequenas empresas, para atender inicialmente 25 milhões de visitantes de qualidade, atraindo o setor de serviços internacional, que é disputado mundialmente à tapa, por um conceito de qualidade de vida transparente que jamais será alcançado em lugar concorrente nenhum, tamanho o potencial que o conceito desfraldado no Rio oferecerá.
O que os políticos mais temem é que os substituamos, que tiremos deles esse poder delegado que os mantêm, num mecanismo controlado de eleições entre opções viciadas nos limites do sistema e legitimadas por uma mídia sustentada. Já passou o tempo que isso acontecia porque não sabíamos o que fazer. Ideias que nos dão uma visão de futuro no qual todos se sentirão inseridos de verdade existem; com aumento sólido da renda per capita, redistribuindo a renda com justiça e proporcionando ganhos em todos os sentidos na nossa qualidade de vida. Mas se depender dessa classe política empresarial que está no poder e do que, vergonhosamente, a mídia carioca vem fazendo (ou deixando de fazer), nunca sairemos desta situação. Político hoje não se elege por ideias ou ideais, e sim, por compactuar com apoiadores feudais, num processo maquiavélico de perpetuação do poder a qualquer preço. É esse o futuro que queremos?

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