Por José Paulo Grasso
Estou conversando com o formulador da primeira ação pacificadora em favelas, que, inclusive, ajudou muito o secretário Beltrame no ideário das UPPs (a terceira geração dessa sopa de letrinhas).
A concepção original funcionou muito bem no Pavão Pavãozinho, mas, por motivos políticos, acabou sendo relegada. Ele acompanha o que está sendo feito e opina que se o posicionamento fosse complementado por ações jurídicas traria um comprometimento maior, porque o judiciário ainda não foi incluído no pacote oferecido de ações sociais. E nem se toca no assunto... Para que dar direitos a favelado, não é?
Realmente, se a idéia é aproximar “o morro do asfalto”, a justiça ao alcance desse morador é muito bem-vinda, para solucionar seus problemas locais e equipará-los à cidade formal. Mas, o mais interessante de nossa conversa, num momento em que as idéias do Acorda Rio começam a ser discutidas nas páginas de opinião pelos articulistas, muito embora ainda só se fale da problemática apresentada, que, cá entre nós, não poderá ser escondida para sempre, é sua conclusão que para que o Rio funcione de forma definitiva, é absolutamente necessário revitalizar a sua debilitada economia. E que o uso de nossa vocação natural é o melhor caminho, tamanho o esplendor que o turismo poderá despertar em todo o Rio de Janeiro em curto prazo.
Ao analisarmos a conjuntura mundial, esse caminho salta aos olhos e, quem tem, aproveita ao máximo este dom, porque ele significa uma economia diferenciada, altamente produtiva, criativa, geradora de emprego e renda, além de o turismo dotar nestas cidades uma qualidade de vida única que se eterniza, desde que bem administrada, tornando-as de forma cristalina resilientes a crises como essa atual, em todo o mundo, que prejudica sobremaneira o raciocínio imobiliário que hoje é o carro chefe das grandes cidades.
A economia evolui de forma permanente, adequando a criação de empregos ao crescimento da população regulado pelo movimento migratório das atividades. Realmente, nos estertores do século XIX a população americana tinha 75% de seus empregos na agricultura e hoje este número está em torno de 2 a 3%, por causa da mecanização. Atualmente, as metrópoles concentram a maioria absoluta da população e necessitam continuamente de novos empregos e de novos imóveis. Claro que cada uma delas usa suas peculiaridades para estimular um desenvolvimento contínuo que gere o que há de melhor em qualidade de vida para os seus moradores, porque sem essa continuidade haveria uma quebradeira geral, como estamos assistindo em Atenas, por causa da irresponsabilidade das políticas adotadas por uma elite que se corrompeu por ganhos elevados sem o suporte adequado, confiando em parâmetros que ruíram nessa crise mundial que está espalhando “primaveras” por todos os lugares, onde os trabalhadores sentem que irão perder a sua qualidade de vida ou onde os desempregados se desesperam por não acessá-la.
O turismo hoje no Rio, além de não ser compreendido pelos cidadãos como uma atividade positiva e inclusiva para toda a sociedade, ainda sofre uma resistência por parte do setor instalado que tem receio de uma concorrência mais estruturada em nível mundial, conforme o prefeito Eduardo paes já detectou. Mas, a função do estado é desenvolver a economia de forma que todos se beneficiem e a cidade possa se reinventar e adotar um crescimento planejado de curto, médio e longo prazos, com uma ancora sólida e metas factíveis, levando toda a sociedade a enxergar um futuro digno, com aumento da renda per capita, num ambiente mais justo onde a miséria seja abolida e haja uma conscientização cidadã onde todos se sintam inseridos e, por isso mesmo, passem a trabalhar ativamente por um ambiente democrático e transparente no qual a corrupção desenfreada e a violência de hoje não terão vez.
Desta forma, a construção civil e a indústria imobiliária, eixos que sustentam o crescimento da economia de uma metrópole como o Rio, serão planejados para gerarem empregos permanentes dentro de uma qualidade de vida administrada, modernizando a atual infraestrutura para permitir a atração do setor internacional de serviços, para que toda a indústria criativa se desenvolva, junto com a cultura, tecnologia, meio ambiente, esporte e lazer, educação, ecologia, serviços etc., dentro de um planejamento para que o Rio se transforme na vanguarda mundial do setor em curto prazo.
Este cenário criará um ambiente propício à proliferação de centenas de milhares de micro e pequenas empresas voltadas para atenderem o desenvolvimento gerado pela transformação da cidade numa Disneylândia que funcionará de verdade, com um aumento estimado de iniciais 25 milhões de visitantes/ano rapidamente, por causa de sua beleza natural única, aliada ao clima e espírito dos nativos, que são qualidades naturais, somado ao trabalho que será desenvolvido pela mão humana para tornar o Rio cada vez mais acolhedor. O carro chefe será um turismo de negócios altamente especializado dentro de um conceito único e de vanguarda.
É imprescindível que a sociedade desperte para esta realidade, porque ao analisarmos o que a Rocinha receberá (em tese): plano inclinado, teleférico, metrô, parque ecológico, projetos de elevatória de água, iluminação pública, legalização da terra e coleta de lixo, agência de emprego, centro cultural multimídia e outras ações; identificaremos que tudo isto terá que caber dentro de uma política econômica real chamada custo/benefício, porque, como sabemos, as contas do Rio não fecham como deveriam. Há uma enorme demanda de aumento da arrecadação para permitir investimentos que compensem mais de meio século de problemas acumulados. Será preciso levar benfeitorias a centenas de outras comunidades, inclusive para o interior do estado, e esta conta obviamente não baterá e os nossos demagógicos governantes não estão preocupados com isso.
As reclamações já começaram, porque o “Gatonet” custava pouco e oferecia muito, enquanto os pacotes oficiais cobram mais e oferecem menos; os aluguéis tenderão a subir, mas o salário dos locatários não. Lá existe uma efervescência de micro e pequenas empresas que se beneficiava de uma localização privilegiada, do aluguel barato, da informalidade, da falta de conta de luz entre outras isenções. Como será sua entrada num mercado formal em que os impostos são os mais caros do mundo e, logicamente, todas as contas terão que ser pagas, com o agravante que a imensa indústria da droga, que antigamente produzia um dinheiro fácil e farto no comercio local, cessou abruptamente? No Rio, impera a velha mentalidade do investimento em obra vistosa, que supostamente tem que ser capaz de gerar dividendos políticos.
O teleférico projetado enfrenta oposição geral, porque pouco colaborará para melhorar o policiamento da favela, o transporte de lixo ou o acesso em emergências, de médicos e bombeiros, ao local. As condições de suas vielas, muitas com menos de um metro de largura, impedem que casas recebam iluminação e circulação de ar adequadas. A incidência de tuberculose na favela, com 300 casos por 100 mil habitantes, é absurdamente mais de sete vezes superior à média nacional. Alguém está preocupado com isto? No caso da Rocinha, há um projeto de plano diretor, escolhido por concurso público promovido pelo Estado do Rio, em 2005. Ele prevê o alargamento e a conexão de ruas já existentes e a construção de planos inclinados para facilitar o deslocamento de pedestres. Claro que foi abandonado para beneficiar os amigos da vez. Se a ideia é transformar a realidade das favelas, integrando-as à vida da cidade, é preciso que a urbanização, o saneamento e a prestação de serviços sejam levados a sério, e não transformados em plataformas demagógicas por políticos inescrupulosos.
A cada assalto, contato com a miséria atroz que nos rodeia ou tentativa de intimidação por esmola que sofremos, a tendência é nos perguntarmos por que o Brasil carece tanto de segurança, saúde, educação, qualidade de vida e dignidade. Afinal, somos um dos quatro países mais ricos do mundo em recursos naturais, entre outros fatores importantíssimos, como clima, estabilidade geológica e sossego geopolítico. Em compensação, estamos assolados por políticos demagogos que não tem a menor preocupação com o presente e o futuro. Pesquisas apontam que um Estado eficiente e eticamente íntegro é o fator de riqueza mais importante em todo o mundo.
E então, vamos nos unir e mudar isso? A solução é clara e só depende de nossa união. Em todos os lugares onde o turismo foi utilizado como instrumento de transformação os resultados foram surpreendentes e o lucro do capital investido se deu em tempo recorde, aliado a uma qualidade de vida invejável. O que estamos esperando? Acorda, Rio!
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