quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Rio, seus infindáveis escândalos em todos os setores e uma mídia de outro mundo

Por José Paulo Grasso
A ocupação da Rocinha já é realidade. Sem disparar sequer um tiro, a comunidade foi conquistada, mas são os escândalos que estão fazendo estragos. Como é notório, alguns chefes da facção local foram presos pela Polícia Federal, com membros corruptos da polícia civil, que lhes davam proteção aliados a ex-PMs.  Houve até tentativa de liberar um carro em que estavam advogados estreitamente ligados ao Palácio Guanabara, que escondia o Nem, por um delegado que apareceu do nada, de repente. Uma história mal explicada e pouco investigada pela mídia, já que até um helicóptero filmou toda a trapalhada.  
Como a comunidade é cercada por florestas que possibilitam inúmeras rotas de fuga e possui cavernas que já esconderam no passado escravos fugitivos, não dá para entender por que os traficantes não fugiram a pé, já que presumivelmente devem ser exímios conhecedores do local. A explicação veio quando o chefe aprisionado revelou que mais da metade dos seus lucros, com estimativa de até cem milhões de reais/ano, era utilizada em propinas para as mais diversas corporações, o que elucida a inexplicável fuga em massa do Alemão. Até os insuspeitos “caveiras” supostamente estariam envolvidos – e sobre o assunto caiu o mais pesado sigilo. Por quê?
Este incongruente comportamento jornalístico é adotado a qualquer ilícito que ao invés de ser investigado é manobrado para cair no esquecimento, porque o que importa é que, supostamente, o Rio “agora vai”, só não sabemos para onde porque não há planejamento e a realidade apresentada pela mídia é virtual.
Já se apreendeu de tudo, armas, drogas, munições etc., mas mesmo a invasão sendo acompanhada pela corregedoria, e com a proibição de uso de mochilas, até agora os milhões do tráfico e as jóias espalhafatosas espantosamente não apareceram, mesmo sendo público que traficante não tem conta em banco. E dos mais de mil supostos bandidos, somente uma dezena foi presa, pois passamos a interiorizar a criminalidade. As negociatas mais incríveis acontecem e não são apuradas como, por exemplo, o tal metrô para a Barra, cujo trajeto ainda não foi definido, mas o contrato já foi assinado e as obras iniciadas mesmo com todas as associações de bairro querendo mudanças, com o detalhe “nonsense” que 500 pessoas em Ipanema não querem uma estação que beneficiará milhares de pessoas, mesmo num trânsito que a cada ano fica mais caótico e poluidor.
É apavorante a falta de controle dos gastos públicos em obras e compras, a política administrativa de conservação que deixa tudo ruir porque sabidamente as obras emergenciais são dispensadas de licitação e sempre dadas às mesmas empresas, aliada a total falta de vontade de proporcionar qualidade de vida e condições dignas de trabalho aos funcionários, sejam eles bombeiros, policiais, professores, médicos e outras classes que recebem os menores salários da federação, sem perspectivas de melhorias, porque nesses casos nunca há possibilidades orçamentárias.
Com isso todos os serviços prestados à população, tanto públicos como privados, são do nível de um Maranhão, tão humilhado por um feudo que a cada dia fica mais rico enquanto a população sobrevive na maior miséria. É absurdo o fato de sermos o segundo PIB e em contrapartida termos os piores índices de desenvolvimento em todos os setores e que pioram a cada ano! Como pode a arrecadação de ICMS de 1995 ser maior do que a de 2010?
Por que nos conformamos que uma minoria ínfima e corrupta nos submeta a esta indecente situação, onde a miséria impera nas ruas, nos envergonhando de todas as formas, e impeça descaradamente que tenhamos um futuro digno? Está na hora de o Rio acordar e reagir.
Os investimentos bilionários para os eventos midiáticos não apresentam nenhuma perspectiva de retorno socioeconômico e, muito pelo contrário, apresentarão uma conta salgada que deverá levar décadas para ser paga, piorando ainda mais uma situação que já está terminal. O Rio teve uma melhora na sua classificação de risco de forma inexplicável, já que sem os royalties as contas públicas podem quebrar, sendo que um capital que deveria estar sendo utilizado para abrir perspectivas de futuro está sendo utilizado para pagar os aposentados, em tese o passado. O pior é que não há um estudo sequer que comprove que este dinheiro foi ou está sendo bem aplicado. E a piora da crise mundial está aí para nos alertar que devemos tomar providências rapidamente, porque os lucros são privatizados, mas os prejuízos são socializados.
Os bilhões investidos em Copa do Mundo e Olimpíadas, que são universalmente consideradas indutores do turismo, onde patentemente temos a maior vocação natural confirmada do mundo, poderiam trazer um retorno magnífico, mas inexplicavelmente as pastas correlatas do turismo, da cultura, de tecnologia e infraestrutura não têm um projeto de curto, médio e longo prazos para apresentar em conjunto e estão esvaziadas por partidos políticos aliados. O Centro de Convenções Internacional que foi apresentado como sendo o legado pós-2016 é um erro inadmissível e confesso de seu idealizador, que não tem moral para assumir isso e consertá-lo.
Desta forma se impede a revitalização da economia para levar perspectivas de futuro às comunidades pacificadas, aos subúrbios e à periferia, desperdiçando uma chance única de o Rio de Janeiro se reinventar com ética e qualidade de vida, como outros lugares do mundo que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos conseguiram.
Ou seja, o turismo de negócios, uma verdadeira mina de ouro em qualquer lugar do planeta, que traz um espetacular aumento de renda per capita em todos os setores da sociedade, aliado a uma qualidade de vida invejável, está sendo descartado por uma elite política e empresarial que prefere atirar a economia na sarjeta ao invés de permitir que haja desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental que obviamente não assegurará suas reeleições, estas apoiadas em clientelismo e que só sobrevive onde há um estado feudal que se omite como é o caso do Rio, com um IDH vergonhoso no qual mais de 50% da população sobrevive em favelas, completamente abandonadas por um poder público que não nos representa de verdade.
Está na hora de reagir e emergir desta situação vergonhosa. Para tal, precisamos cobrar também os veículos noticiosos cariocas o seu papel. Eles não podem ser coniventes com o atraso.

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