É um absurdo que se tenha propagado por meses que o Rio tinha entrado num ciclo virtuoso, tese que foi desmentida num único artigo e que misteriosamente levou o secretário de desenvolvimento a coincidentemente retornar a iniciativa privada e que depois disso não se toque mais no assunto. O Rio precisa entrar num ciclo virtuoso de verdade e isto merece uma discussão pública, porque a chance é única e não pode ser desperdiçada.
A mídia internacional não para de dar agourentas informações, como que para lembrar-nos de que a continuar como está indo o Brasil, esta crise passará a ser também realidade no contexto nacional. Somos bombardeados o tempo todo com notícias sobre uma crise que não tem fim, provocada por irracionalidade econômica insustentável e que está revelando ao mundo o despreparo mundial dos políticos para a administração pública, que deveria ser tocada por profissionais competentes e que respondam por isso judicialmente. Sobretudo neste momento em que os arautos econômicos não conseguem acertar uma previsão, o que somado às já tradicionais medidas adotadas pelo FMI, estão dizimando o que restou da economia e da qualidade de vida dos cidadãos comuns. Tudo para tentar sanar um colapso que não foi provocado por eles e sim por administrações corruptas, que incrivelmente estão protegidas mesmo depois de acentuarem o abismo socioeconômico que tanto favorece aos atuais ambientes primaveris (ou de pesadelos) que estão se espalhando pelo mundo e trazendo à tona cada vez mais tragédias socioeconômicas.
A tão propalada liberdade de imprensa é solapada de diversas formas pelos diferentes regimes em todos os pontos do planeta para mascarar que a realidade é péssima, em todos os sentidos, para o cidadão comum, que sofre na pele os diversos problemas provocados pelo establishment, que descaradamente ignora os problemas que causa, por exemplo, ao clima com este inconsequente aquecimento global que tanto prejudica a todos, principalmente aos desfavorecidos.
Depois de décadas de neoliberalismo, que foi o responsável comprovado por esta crise mundial na qual os lucros foram acintosamente privatizados e os prejuízos socializados, é no mínimo estranho que não se fale em acabar com essa irracionalidade econômica que acentuou o abismo social acabando com a proporcionalidade existente entre quem estava no topo e na base da pirâmide. O mundo não pode continuar um imenso cassino, assim como é inaceitável que o número de milionários se multiplique ferozmente surgindo do nada, através de mecanismos corruptos que degradam a condição de vida da coletividade. A coisa está tão explícita que os EUA tiveram que adotar mecanismos que barrem estas anomalias que impedem o desenvolvimento da economia, ao interferirem fraudulentamente no princípio da livre concorrência e estão causando um verdadeiro furor internacional com uma lei nova que permite proteção total e prêmios polpudos em dinheiro a quem fizer as chamadas “delações premiadas” de relações corruptas entre empresas para ver se sua economia, desta forma, se recupera. Por que será que não se faz isso aqui?
Esta lei foi feita para punir uma prática que sempre foi cometida pela maior economia do mundo, mas que se voltou contra eles, graças à globalização e ao clima atual de bandidismo na economia mundial, em que grupos empresariais corrompem de todas as formas para fraudulentamente liquidar corporações rivais impedindo-as de competirem em pé de igualdade. Assim, enfraquece-se toda a atividade na cadeia produtiva, conhecida popularmente como economia de mercado. Isto acontece graças a uma enlouquecida procura por lucros cada vez maiores, fato que é completamente insustentável e que acabará da pior maneira possível, pois provoca o surgimento de mecanismos corruptores que provocam fraudes bilionárias prejudicando o desenvolvimento saudável da economia, além de provocar uma irresponsável instabilidade econômica que derruba países sem se preocupar com o que acontecerá com suas populações. Um exemplo disto é o fato de normalmente serem utilizados sete estádios para uma Copa do Mundo, mas aqui no Brasil a exuberância é tamanha que serão feitos nove, e, claro, que pelo menos sete já estão fadados a serem deficitários, verdadeiros elefantes brancos e ainda por cima superfaturados. E daí?
Outro dia tive de engolir uma análise de um alemão, explicando que, por ele, deixava estes países em crise quebrarem e consequentemente atirar suas sociedades num abismo, porque depois seria mais fácil reerguê-las. Afinal, qual é o valor de vidas humanas e suas dignidades para um economista? Pelo visto, nenhum, pois o que importa é o negócio a ser feito e o tamanho do lucro sem se importar com consequências. Até quando?
Estamos assistindo as relações sindicais desmontarem-se em todo o mundo porque os sindicatos deixaram de representar seus associados e passaram a agenciar somente seus dirigentes que estão a décadas no poder, ficaram riquíssimos e, claro, continuam estimulando a corrupção de forma endêmica. Ou seja, há um movimento ainda no estágio inicial que evoluirá para uma participação efetiva da sociedade na condução do seu destino, nas ditas políticas públicas, porque na democracia o poder emana do povo e para o povo, mas este se ausentou do poder decisório influenciado por décadas de estabilidade econômica, em que o problema não estava em casa e sim nos países em desenvolvimento. Sendo que isto tinha que ser resolvido pelo controle da natalidade porque senão, segundo um economista inglês, Thomas Malthus, o oráculo da época, estes irresponsáveis destruiriam os recursos naturais que os desenvolvidos se achavam no direito de pilhar, descaradamente.
Só que com esta crise mundial tudo virou de ponta cabeça, pois os ditos desenvolvidos estão perdendo sua qualidade de vida e empobrecendo enquanto os em desenvolvimento estão formando uma nova classe média que quer consumir e o dilema que está surgindo terá que ser resolvido, pois a classe média americana tem direito a ter quatro carros e a indiana continuará a andar de bicicleta? Com a explosão socioeconômica em andamento surgirão no mercado sete bilhões de pessoas na próxima década e não há espaço para todos consumirem como a classe média americana ou italiana. Está na hora de a sociedade brasileira acordar para isso e se planejar em curto, médio e longo prazos, antes que elas nos atropelem.
Chegaria a ser cômico se não fosse muito trágico o fato de que após décadas de neoliberalismo onde se pregou a ineficiência do estado em defender a qualidade de vida do cidadão, quando o grande negócio era repassar para a iniciativa privada os serviços mais rentáveis e que sempre foram bem executados pelo estado, o que demoliu a saúde pública dos EUA, por exemplo, além de incursões no ensino, transportes, estradas, saneamento básico entre outros itens que eram defendidos por constituições democráticas. Agora, na hora do prejuízo, estas mesmas instituições estão pregando o contrário, de que é a hora de as instituições públicas dilapidadas socorrerem instituições privadas que detém concessões privilegiadas, mas que estão falindo por terem praticado gestões temerárias e fraudulentas. Não é espetacular o pensamento neoliberal? Alguém se lembra do Banco Marka, da Sadia e outras empresas que estavam apostando irregularmente no dólar, quebraram e foram socorridas com dinheiro público? É assim que funciona. Vamos continuar permitindo isso por aqui? É para isso que trabalhamos quase cinco meses por ano? Para vermos nossos impostos serem dilapidados por uma administração pública feita por políticos corruptos?
Os economistas pregavam que com a globalização o Estado-Nação estava condenado à irrelevância porque a revolução nos transportes e nas comunicações pulverizou fronteiras e encolheu o mundo. Tome de novas formas de governo desde redes transnacionais de agências de regulamentação até organizações internacionais da sociedade civil e instituições multinacionais que vinham transcendendo e suplantando parlamentos nacionais. Até a crise dizia-se que as autoridades políticas domésticas eram impotentes ante os mercados mundiais. Só que a atual conjuntura financeira exterminou todas essas teorias. Quem socorreu os bancos encalacrados que apostavam contra nações, injetou liquidez dando sobrevida ao mercado, empenhou-se em estímulos fiscais abaixando juros e utilizando todo um arcabouço de medidas econômicas legais, proporcionou um mínimo de redes de segurança social para desempregados e está tentando evitar a escalada da catástrofe? Quem está reescrevendo ainda de que de forma hesitante as regras de supervisão e regulamentação dos mercados financeiros para impedir outra crise?
O Estado-Nação é simplesmente a única arma do povo para ter acesso ao princípio mais adotado nas constituições por todo o mundo, que prevaleceu da revolução francesa, marco maior da utopia moderna, o princípio básico da liberdade, igualdade e fraternidade, que é o sonho mundial. Ele precisa desesperadamente que o cidadão acorde de sua passividade bovina, se una e venha participar ativamente da democracia ditando regras para impedir que menos de 0,5% da população continuem a regular o mercado de uma forma na qual só eles ganhem e ainda por cima permaneçam impunes na sua insana procura por lucros cada vez maiores, o que com certeza irá provocar, de novo, outra crise mundial como essa que torrou trilhões de dólares, milhões de empregos e virou a economia de ponta-cabeça, atirando na miséria diversos países e suas sociedades. O Estado-Nação pode ser uma relíquia, mas é tudo o que temos para enfrentar a tirania da corrupção.
Deu para entender a dimensão do problema e a absurda necessidade de as pessoas acordarem e se unirem para através do sistema democrático impedir que isto volte a acontecer, porque como estamos vendo, a falta de uma regulamentação sólida gera falta de confiança nas atuais estruturas, o que trava o consumo impedindo que a roda da economia volte a girar, sem sobressaltos, porque o cassino continua funcionando, apenas as apostas mudaram de mercados e agora existem até máquinas que rodam programas que ficam 24 horas por dia procurando brechas para que alguns possam continuar especulando com a saúde econômica de todos. E para acabar com essa exuberância do mercado, é necessário planejamento e uma cobrança muito firme de toda a sociedade unida, porque como estamos vendo, menos de quatro anos do maior crise financeira do mundo, nada mudou, a especulação continua, a regulação não sai do zero e assim não chegaremos nunca a um modelo que iniba a sanha autodestrutiva do establishment. Espero que você, leitor e cidadão, já tenha entendido que se depender de quem está no poder, nada mudará, para que tudo continue como está, porque para eles, irresponsavelmente, assim é que está bom e deve continuar.
Como só agora podemos entender claramente, não foi à toa que “conseguimos” o inédito direito de consecutivamente sediarmos os dois maiores eventos midiáticos do planeta e que agora estão sendo vistos como realmente são: o establishment corrupto lucra absurdamente com estes eventos que exigem investimentos de bilhões de dólares e que depois se revelam injustificados proporcionando às economias que os promovem uma conta sem retorno, que será paga à custa de pesados sacrifícios socioeconômicos que prejudicam a qualidade de vida local por décadas. Em alguns casos, atirando as economias afetadas numa bancarrota total, como estamos assistindo estarrecidos com a Grécia, que sediou uma Olimpíada, investiu bilhões de dólares, ficou com lindos elefantes brancos que se somaram a uma crise sem precedentes produzida por uma especulação imobiliária irresponsavelmente desenfreada apoiada pela banca internacional que teve lucros abissais. E que está revelando ao mundo o que uma corrupção exorbitante, aliada a políticos despreparados e corrompidos, pode acarretar a uma economia, destruindo na maior canalhice a qualidade de vida e dignidade de uma população. É isso que queremos para o nosso futuro?
Esse distanciamento da política que se iniciou forçado pela ditadura produziu o resultado que estamos contemplando, pois quando não exercermos nossas obrigações democráticas ativamente o que acontece é uma corrupção como a atual, que arrasa o desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental, deixando a sociedade civil a mercê de serviços públicos, privados e de uma qualidade de vida como a que estamos sentindo na pele, enquanto a publicidade oficial nos mostra sadicamente outra realidade.
O fato é que indiscutivelmente todos, rigorosamente todos os poderes constituídos, fugiram do controle, inclusive a imprensa e, como estamos vendo diariamente, estão “supostamente” unidos para assaltarem os cofres públicos, na maior impunidade. Isto não aconteceu de uma hora para outra, vem sendo desenvolvido há décadas, culminando com malfeitos sendo praticados num clima de normalidade total que, quando descobertos, são explicados por uma descarada justificativa de que todo mundo faz isso, por que eu não posso? Não é só caixa dois, aonde já se viu no mundo a quantidade de partidos que tem aqui, sendo que há vários novos prontos para entrar na mamata, pois além de receberem verbas públicas, ainda vendem acintosamente a participação nos seus horários eleitorais, aderem mediante ministérios com porteira fechada a quem estiver no poder, querem aquela diretoria que fura poço, tudo com um só objetivo: “supostamente” roubar! Até quando as empresas públicas darão prejuízos incalculáveis sendo “administradas” por políticos e ao passarem para a iniciativa privada a preços de “pai para filho”, miraculosamente passam a dar lucros fabulosos? Como funcionários públicos concursados permitem que fatos como esses se tornem rotina arriscando a perder seus empregos como aconteceu na Rede Ferroviária Federal, na Varig etc.?
Junte a isso a total falta de planejamento da economia em curto, médio e longo prazos, mesmo com a estabilização da economia, rombos anuais de cerca de R$ 80 bilhões só na esfera federal graças a uma gestão “política” aliada a títulos públicos que pagam 9,5%, enquanto nas outras economias este valor tende a zero, supervalorizando o Real e liquidando com a atividade industrial que não consegue ser modernizada para poder competir de igual para igual nessa economia globalizada e onde bancos têm lucros maiores do que as indústrias graças a um spread e taxas indecentes e veremos um cenário perfeito para uma crise se instalar e quebrar todo mundo.
Como explicar que os dirigentes da CBF e do COI, que estão no poder há mais de duas décadas, enriqueceram de maneira indecentemente irreal? Como explicar que mesmo “supostamente” envoltos em escândalos bilionários eles ainda permaneçam em seus cargos usufruindo o poder e influenciando como os bilhões em investimento serão gastos? Pior, como explicar que de vez em quando esses mandatários frequentam as páginas policiais e de repente essas reportagens desaparecem da mídia misteriosamente assim como apareceram na maioria das vezes por brigas entre eles pelo butim? Por que essas relações que implicam diretamente no patrimônio esportivo cultural popular não são transparentes e nem se cogite isso? E como se justifica que os clubes estejam falindo, nossos melhores jogadores sejam vendidos imediatamente ao se destacarem, enquanto a empresa que monopoliza os direitos de imagem dos jogos tenha lucros bilionários e que diante da ameaça de uma licitação pública, de uma hora para outra os valores sejam aumentados em mais de 100% e mesmo assim ainda sejam migalhas perto do que poderiam ser pagos se houvesse competição entre os diversos segmentos patrocinadores? Por que o esporte, que é tão importante na formação moral de nossos jovens, que deveria ensiná-los a competir, perder com dignidade para aprender a ganhar e principalmente formar campeões para influenciar nossa juventude dentro do princípio de “mens sana in corpore sano”, vive envolto num mar de lama da corrupção, deixando de influenciar um comportamento moralmente ético e fisicamente saudável na população?
A história só se repete como farsa se nós deixarmos, e como a coisa está apertando de todos os lados, está na hora de nos unirmos e reagirmos. É incrível a quantidade de problemas que atormentam a população do Rio, que nunca melhora, simplesmente piora e nada acontece. Nenhum órgão regulador age e, o que é pior, os secretários das áreas em questão dão entrevistas cínicas dizendo que a culpa é dos usuários que não sabem se comportar e que ainda por cima são agredidos com bombas e cacetadas. Como tudo que pode piorar, piora, agora até o edifício Liberdade desabou e levou mais dois prédios de roldão, iniciando um processo que expôs as entranhas da administração pública do RJ que, por ser política, não tem o menor preparo para lidar com problemas emergenciais.
Afinal, para que servem nossos políticos que, como estamos descobrindo, mesmo com toda a censura, sim, censura!, formaram uma aliança “mui amiga”, que não se opõe a nada, porque cada partido “administra” sua secretaria, fazendo “supostamente” suas negociatas por debaixo dos panos, como de vez em quando descobrimos, zelam por suas vantagens se concedendo aumentos indecentes, aos quais não temos direitos, sempre inchando suas câmaras setoriais, para cada vez mais dividirem o poder obtendo assim mais vantagens?
Você conhece algum lugar no mundo onde bueiros explodem regularmente, prédios desabam, barcas batam, bondes, que todos sabiam que iam dar problemas, continuem funcionando até uma tragédia, trens, que são verdadeiras sucursais do inferno, quebrem regularmente, por total ineficiência das concessionárias que faturam “os tubos”, onde o cidadão perde rotineiramente mais de cinco horas por dia para ir e vir do trabalho chegando a ter de se sujeitar a dormir nas ruas, que epidemias com mortes se repitam anualmente, onde as pessoas morrem por falta de UTI diariamente, que pessoas morrem por balas perdidas regularmente, que a violência policial exploda regularmente nos subúrbios e periferias, que os alunos frequentem as escolas e ao serem avaliados apresentem resultados decepcionantes, que as praias estejam poluídas regularmente, que os pontos de poluição nos rios se repitam regularmente, que as políticas públicas sejam pensadas exclusivamente como propaganda de um determinado político prejudicando desta forma a administração como um todo, que os mesmos problemas se repitam regularmente há décadas, que os mesmos escândalos administrativos se repitam regularmente, sendo que a impunidade é a única coisa que funciona… como no Rio de Janeiro?
A administração pública mente de forma irresponsável, quando questionada, ignora o assunto, mas aumenta a verba de divulgação, sendo que com isso a mídia casualmente se cala e assim vamos perdendo uma chance única de se reinventar o Rio como outros lugares que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos conseguiram superar e hoje são exemplos de qualidade de vida.
É um absurdo que as mesmas estatísticas sem fundamento sejam publicadas pela Riotur, mesmo se tendo denunciado num artigo como os outros lugares divulgam as suas com confiabilidade, ou seja, há um claro intuito de enganar a opinião pública por parte de quem publica isso, sabendo que não são críveis. A mídia, por outro lado, está externando a preocupação do trade com o aumento de números de apartamentos, o que gerará um aumento de oferta superior à demanda, já que não há uma política definida para o setor de turismo e que o centro de convenções que foi apregoado como o maior legado olímpico tenha sido desmascarado como um erro colossal confessado por seu idealizador que hoje escreve pedindo que o planejamento seja priorizado? Como se explica que uma cidade que tenha o maior potencial conhecido para o turismo do mundo só receba bandeiras hoteleiras econômicas quando deveria ser a vanguarda mundial do setor e privilegiar um turista de qualidade e de negócios que irá exigir acomodações mais luxuosas e logicamente gastar mais, aumentando a arrecadação? É inadmissível que o estado e o município não desenvolvam a vocação natural do Rio, que é muito superior em termos de retorno socioeconômico, cultural e ambiental a do Pré-sal e que ainda por cima pode eternizar milhões de empregos e promover uma qualidade de vida única no mundo.
É um absurdo também que um ex-diretor do IAB publique um artigo no jornal O Globodizendo que as favelas cariocas terão o mesmo destino das cidades medievais européias e das ilhas gregas que inicialmente eram moradias populares e que hoje desfrutam de arquitetura e beleza singular, graças à prefeitura, que prometeu que suas urbanizações seriam um dos principais legados olímpicos, já que ela afirma ter caixa para realizar melhorias, o que é um engano porque essas verbas são carimbadas pelo Banco Mundial, que concedeu o maior empréstimo do mundo ao Rio, acreditando que isso será feito, não se sabe como, ainda mais depois da experiência fraudulenta com a despoluição da Baía de Guanabara. Estas declarações surreais até para a demagogia reinante acontecem porque o IAB promoveu um concurso no qual foram “escolhidos” 40 escritórios técnicos de arquitetura para torrar esses bilhões que o município diz ter, elaborando projetos de urbanização e de melhorias habitacionais em diversos agrupamentos das ditas comunidades e até agora o prefeito não se manifestou se esta mamata vai acontecer ou não.
É um absurdo ainda que sejam feitas obras públicas por motivos estéticos, como a demolição do viaduto da Perimetral, utilizando um dinheiro público (CEPACs) que necessariamente teria que ser investido em obras que aumentassem a fluidez do tráfego de veículos, ainda mais quando a área envolvida já seja reconhecidamente um caos e que poderá parar de vez, dado ao aumento de veículos de cerca de 40 mil veículos por ano sem que irresponsavelmente sejam definidas políticas que resolvam o incremento do setor. A situação fica absurda quando se descobre que estão previstas para a área portuária, num projeto que não decola por não apresentar sustentabilidade alguma, além de não revitalizar a combalida economia municipal, cinco mil edificações entre multifamiliares e escritórios, sendo que poderá se construir até 50 andares, o que levará confusão total ao trânsito daquela região que é o principal elo de ligação rodoviário do Rio, já que alimenta os ramais básicos da cidade. Para piorar querem que a atual área do gasômetro, junto com São Cristovão, seja incorporada à especulação imobiliária com gabarito de até 50 andares, o que é completamente irracional e que já gerou dentro do mercado imobiliário propostas de construção de prédios com atividades mistas como o famoso Edifício Menescal em Copacabana, que viveu seus tempos de glória e hoje se encontra em franca decadência, porque como já se admite descaradamente que o trânsito só irá piorar para o futuro, por total falta de políticas públicas e principalmente de fontes de verba para que se possa encarar o problema, a ideia agora é resgatar esse conceito jurássico e continuar especulando enquanto der.
É um absurdo que a revitalização da área portuária, que tem por obrigação levar desenvolvimento a todo o Rio de Janeiro, como, aliás, aconteceu em todos os lugares do mundo onde se recuperaram essas áreas degradadas, pela diminuição acentuada da atividade portuária frente a novas formas de transporte, não tenha um planejamento para ser apresentado à sociedade e seja apenas um projeto de especulação imobiliária que comprovadamente vai estagnar para sempre uma economia que poderia ser revitalizada se as autoridades tivessem esta intenção e não “supostamente” um compromisso com seus financiadores de campanha.
É um absurdo que a cada hora uma coisa diferente seja apontada como legado olímpico e que depois de um artigo mostrando que não é bem assim estes legados sejam relegados ao invés de discutidos publicamente para que de uma discussão abalizada surjam soluções que justifiquem os bilhões que estão sendo investidos na cidade até 2016. Eles terão que, ao invés de virarem elefantes carissimamente brancos, produzir meios que ajudem necessariamente a pagar a conta que irá ser apresentada e que inexplicavelmente ninguém toca nesse assunto. Ela será paga com o nosso dinheiro e precisamos nos unir e acompanhar o que está sendo feito. O novo píer para atender à demanda dos visitantes que chegam para a temporada de verão, que já foi apontado como um legado e depois relegado ao esquecimento, é uma farsa, não apresentando a menor condição de atendê-los com a necessária dignidade, já que não estão previstas e nem existem projetos com as necessárias áreas para embarque e desembarque para os veículos que atenderão milhares de pessoas simultaneamente em um mesmo horário. O carnaval deste ano provou isto, o caos se instalou no local e isto precisa ser discutido e resolvido antes que mais verba seja desperdiçada.
É um absurdo colossal que os aeroportos estejam sendo licitados com discussão em cima do aumento de demanda do mercado interno e não se esteja raciocinando em termos do mercado turístico que tem o maior potencial do mundo, caso seja desenvolvido em sua plenitude com sua característica de geração de emprego, renda, formação de produtos com a marca Brasil, indústria criativa e que tais que podem responder por mais de 15% do PIB. Com o detalhe que há um potencial de crescimento absurdo do setor, que engloba a maior indústria do mundo, com poder de alavancar fortemente nossa economia, já que o mercado aéreo hoje é comparado com o americano de 40 anos atrás e que estamos próximos a ser a 5ª economia do mundo embora não se enxergue isso no mercado, apenas no PIB e que o turismo é de fundamental importância para que isso passe do PIB para o mercado, pois como é notório um país só é bom para os visitantes quando também é para seus moradores.
É um absurdo colossal que o Rio, diante de uma chance única de se reinventar, não tenha o menor indício de um planejamento de curto, médio e longo prazos, com âncoras definidas e metas críveis apresentadas para que a sociedade as aprove e participe da formatação de um futuro no qual todos se vejam inseridos e com ganhos de qualidade de vida em todos os sentidos e, ao invés disso, esteja assistindo a uma especulação imobiliária completamente irresponsável, cujo mote já diz tudo (“30 anos em 5”), porque, como sabemos, o pós-2016 será trágico.
É um absurdo mais colossal ainda que não tenhamos a menor idéia do tamanho do rombo orçamentário que advirá ao pós-olímpico, porque não há a menor intenção em divulgar o tamanho da conta que irá chegar e de onde irá sair o dinheiro para pagá-la, visto que não há rentabilidade prevista em nenhum investimento, além do que não existe a menor vontade política de revitalizar nossa economia destruída por mais de meio século de administrações demagógicas e corruptas e sim em agradar aos seus apoiadores eleitorais. Tomem como exemplo o Maracanã, que acabou com a geral e deixará de receber o povão, os popularmente conhecidos como geraldinos e ainda por cima, após investimentos que somados passam de um bilhão de reais, será entregue à iniciativa privada por um aluguel que jamais permitirá o retorno do capital investido, mas possibilitará que algum grupo amigo fature milhões anualmente.
É um absurdo colossal que a sociedade permita que um grupo de especuladores e políticos corruptos jogue no lixo uma oportunidade única de reinventar o Rio, e consequentemente o Brasil, dentro do conceito de Estado-Nação com ética e qualidade de vida como praticamente 100% da população anseia. E aí, vamos permitir isso?
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