Por José Paulo Grasso
“O Rio [...] é extraordinário. Aqui perto mesmo, na Oswaldo
Cruz, há uma escola construída em 1902, um senhor prédio, com janelões.
Pensavam em formar um povo. Fomos a capital, todo mundo de valor veio para cá.
[...] Perdemos essa centralidade, mas temos que fazer força para voltar a ser o
tambor do país. Por que? Ora, porque podemos.” (Alberto Dines, escritor, jornalista e editor do Observatório
da Imprensa)
Há algum tempo existia um consenso de que os problemas
socioeconômicos do Rio eram consequência direta de décadas de governos de
oposição ao governo federal. Pois bem, há cerca de seis anos, a sociedade
elegeu um governador e apoiou seu indicado a prefeito para que os poderes
estaduais e municipais trabalhassem afinados com a união. Assim a “Cidade
Maravilhosa” abiscoitou os mais midiáticos eventos mundiais consecutivamente
até 2016, seus investimentos bilionários em diversos setores e ainda conseguiu
uma oportunidade única de se repensar, levando desenvolvimento socioeconômico,
cultural e ambiental a todo o Rio, incluindo as favelas, subúrbios, periferia e
interior do estado, através da tão sonhada revitalização da área portuária, a
razão da existência do Rio.
Sua localização central, oferecendo diversidade de serviços
públicos, transporte modal, atrativos históricos, culturais e ambientais, além
da privilegiada visão da Baia de Guanabara, ensejou o desejo de revitalizar a
economia do RJ, como outras sociedades que tinham problemas iguais ou piores do
que os nossos, conseguiram. Porém, esta união dos poderes instituídos revelou
que não há vontade política nas nossas lideranças, acomodadas, em implantar um
modelo que leva economias em crise a um desenvolvimento comprovado:
planejamento de curto, médio e logo prazos, com metas factíveis amarradas por
uma sólida âncora que proporcione ganhos na qualidade de vida em todos os
sentidos. Ao invés disso, o que estamos assistindo é a uma imoral aliança entre
dezenove partidos para partilhar secretarias, anulando a oposição para lucrarem
com os investimentos bilionários que se concretizarão até 2016, que são
desperdiçados em projetos condenados pela população e que, inegavelmente, não
trarão retorno.
Isso revela total desrespeito ao contribuinte, que jamais
terá uma qualidade de vida satisfatória, configurando um ataque ao patrimônio
público. Para piorar, não há um desenvolvimento sustentável dos dois dos
principais pilares da economia de uma megalópole que são a construção civil e a
indústria predial e sim uma desmesurada especulação imobiliária tentando
aproveitar o boom de eventos internacionais e que, como é notório, está próxima
de uma quebradeira em série. Sem contar a total falência dos serviços públicos
e privados que, inacreditavelmente, pioram a cada ano e que ostentam os piores
índices do Brasil em todos os aspectos, o que provoca um custo social que
atirará o Rio pós-2016 num cenário sombrio.
Tomemos como exemplo o Estádio do Maracanã, que já foi
considerado o maior estádio do mundo e era o orgulho da população. Nos últimos
seis anos foram gastos recursos públicos em reformas inexplicáveis e
consecutivas que até a Copa de 2014 dilapidarão cerca de R$ 1,5 bilhão para que
tenhamos um estádio padrão Fifa, que internacionalmente custa menos de R$ 350
milhões. Claro que nesta conta ainda não entrou o custo do que será gasto
obrigatoriamente nos arredores para atender a protocolos assinados para a Copa,
para que nos grandes jogos não aconteçam os transtornos habituais que
transformam uma partida de futebol num problema de logística que atrapalha toda
a cidade.
O povo será, assim, definitivamente expulso desse moderno
estádio, destinado a um esporte dito popular, para que tenhamos, à revelia, um
legítimo elefante branco, altamente deficitário, que jamais pagará sequer sua
caríssima manutenção, mas que será licitado para que algum grupo amigo possa
administrá-lo e faturar o seu, sem que haja qualquer preocupação com o retorno
do investimento público bilionário, como foi com o Estádio do Engenhão.
Mesmo depois dos erros cometidos no Pan Americano,
absurdamente jamais se cogitou que um investimento dessa dimensão traga retorno
e qualidade de vida ao Rio, já que existem modelos como as modernas arenas
esportivas americanas, que além de serem completamente autossustentáveis, ainda
apresentam um entorno que dialoga com a cidade e privilegia a qualidade de vida
não impondo transtornos onde estão instaladas, muito pelo contrário, são fontes
de receitas vitais da administração local, o que é primordial para uma
administração pública.
Os mesmos deslizes do Pan, que foram tão criticados pelos
atuais dirigentes em suas campanhas, estão sendo repetidos com requintes de
deboche. O legado que ficará será um rombo bilionário que será cobrado no
pós-2016, junto com a vergonha de termos perdido uma oportunidade única de nos
reinventarmos por total soberba administrativa.
Como a sociedade suporta governantes que não tem o menor
comprometimento com o futuro e a qualidade de vida de uma cidade que, se bem
planejada, será a vanguarda mundial tal a beleza natural que nos privilegia?
Até quando a maior vocação natural do mundo para o turismo será destruída de
forma irresponsável por administrantes que, supõe-se, estão enriquecendo de
maneira incompatível com seus rendimentos? O Rio não pode permitir isso!
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